Unidade de Informação Financeira (UIF): “Dinheiro só saiu de África porque bancos no estrangeiro facilitaram”

A responsável da Unidade de Informação Financeira (UIF) de Angola rejeitou hoje a ideia de que haja sistemas financeiros “limpos” ou “sujos”, salientando que os bilionários africanos existem porque tiveram ajuda dos bancos estrangeiros.
Numa conversa com jornalistas em Luanda, Francisca de Brito sublinhou a importância da unidade que dirige no combate ao branqueamento de capitais e defendeu que a corrupção é um crime contra a humanidade.

“África hoje tem bilionários, mas o dinheiro não está em África. Como é que Portugal pode ser considerado um sistema limpo se deixou entrar dinheiro sujo? Então não pode ser limpo”, afirmou Brito, a propósito dos sistemas financeiros, reiterando que “o dinheiro sujo de África está quase todo fora de África”.

A responsável da UIF falava a propósito da avaliação a que Angola vai ser sujeita pelo Grupo de Ação Financeira Internacional (GAFI) e que se iniciou já este ano, um processo a que também já foi sujeito Portugal, que obteve classificação máxima em matéria de prevenção do branqueamento de capitais.

“Um sistema bem explicado para o GAFI não significa, na prática, que nada de mal se passa lá”, afirmou Francisca de Brito, no entanto, dando como exemplo o caso dos “500 milhões” que levou à condenação do antigo governador do Banco Nacional de Angola (BNA), Walter Filipe, e de Filomeno “Zenu” dos Santos, filho do ex-presidente angolano José Eduardo dos Santos, e que envolvia uma transferência daquele montante para um banco britânico, que acabou por bloquear a transação.

“O sistema usado pelo governador do BNA nada tem a ver com Angola, os crimes são transnacionais”, insistiu, dizendo que “não há limpos e sujos” já que “os africanos tiraram dinheiro de África, mas foram facilitados pelos bancos lá fora” e “nos bancos de Angola não há uma conta com um bilião”.

A responsável da UIF lamentou a apropriação de bens públicos, apontando um caso de fraude com merendas escolares num governo provincial que a chocou particularmente, e considerou que a corrupção deveria ser considerada como “um crime contra a humanidade”.

“Um crime de homicídio pode envolver a morte de uma pessoa, mas a corrupção mata várias pessoas”, criticou.

O relatório de avaliação mútua do GAFI sobre Angola deve estar concluído em março de 2023, estando prevista uma visita do grupo de peritos ao país em junho do próximo ano.

Trata-se de um processo de avaliação relativo ao sistema de prevenção e combate ao branqueamento de capitais, em que os peritos vão avaliar o grau de cumprimento e implementação das recomendações desde 2012, quando foi aprovado o relatório anterior e Angola foi admitida como membro do Esaalmg (Grupo Anti-Branqueamento de Capitais e Financiamento do Terrorismo da África Oriental e Austral), grupo regional do GAFI.

 

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