Biscates e venda informal constituem o escape de jovens do município angolano do Bailundo para “sobreviver”, devido à falta de oportunidades de emprego, sobretudo na função pública, de formação profissional e de programas de fomento do empreendedorismo.
Um dia-a-dia difícil é o que dizem enfrentar os jovens do município do Bailundo, província angolana do Huambo, que já perderam a esperança de ingressar no funcionalismo público, devido à burocracia e à ‘gasosa’ (pequena corrupção) que afirmam persistir nas instituições.
A venda informal nas principais ruas do município, o recurso aos biscates e ao serviço de mototáxi constituem os mecanismos de sobrevivência dos jovens locais para conseguir o mínimo para a sua sobrevivência e dos respetivos filhos.
“O nosso dia-a-dia está mesmo difícil, para sobreviver tem sempre algumas batalhas, alguns vendem combustível, alguns trabalham com motorizadas, outros nos campos e é mesmo muito difícil aqui no Bailundo”, disse à Lusa Januário Chimbula Sawambo.
O jovem de 17 anos, que conduz uma motorizada adquirida pelos pais para o sustento da família, queixou-se também da “corrupção” que diz existir para o acesso à função pública.
“Na função pública é difícil e só se consegue concorrer com dinheiro na mão, para sobreviver tenho a moto dos pais “, disse, relatando que consegue pelo menos 2.000 kwanzas (3,7 euros) por dia.
Fonseca Domingos, 17 anos, desempregado, contou à Lusa que sobrevive de biscates que faz pelas ruas do município, lamentando a falta de emprego para os jovens e a “exigência da ‘gasosa’” para uma vaga de trabalho.
O estudante da 10ª classe assinala a vida difícil dos jovens locais: “Às vezes para comer já é luta, chegas na empresa e te pedem mais ‘gasosa’ e é esse o nosso dia-a-dia difícil”.
Vender bilhetes no parque municipal do Bailundo para passageiros que recorrem aos transportes interprovinciais é o serviço de Ana Chilombo Sassoma, 26 anos, uma atividade que considera como biscate para sustentar quatro filhos.
Com uma esferográfica e bilhetes de passagem à mão, que vende ao preço de 10.000 kwanzas (1,7 euros)/cada, a jovem relatou o seu percurso diário marcado de “dificuldades e falta de esperança” em dias melhores.
“O dia-a-dia aqui é mesmo assim com alguns biscates, sobrevivemos com os biscates, não há oportunidades na função pública, você concorre e é sempre negativo”, explicou.
“Por mês ganho 30.000 kwanzas [53 euros]. Tenho família, já concorri várias vezes e já perdi a esperança de conseguir algum emprego na função pública e com os meus biscates os meus filhos vão sobreviver”, apontou.
Dificuldades diárias dos jovens do Bailundo foram também narradas por Paulo Baptista Chiculi, 18 anos, que por falta de emprego se dedica, há um ano, à venda de combustível no mercado informal.
“O negócio vai que não vai, dia sim, dia não, e é só para conseguir um pouco para levar comida em casa”, sublinhou, porque, realçou, “nem já formação profissional aqui existe”.
A vender o litro de gasolina a 175 kwanzas (0,3 euros), mais 15 kwanzas face ao preço oficial, deu conta que diariamente consegue cerca de 5.000 kwanzas (8,8 euros): “E já dá para a alimentação e para não dormir à fome”, assegurou.
Bailundo é um dos 11 municípios da província angolana do Huambo, região sul do país.