O Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) vai financiar em 125 milhões de dólares (cerca de 117 milhões de euros) mais um projeto em Angola, nas áreas urbanas da província de Benguela, revelou hoje à Lusa um responsável da instituição.
“Foi aprovado na semana passada, está preparado e começa agora a ser executado. O nosso financiamento é de 125 milhões de dólares, dos quais 50 milhões são uma facilidade de crédito provisionada pela China, que o BAD vai administrar”, disse à Lusa Pietro Toigo, representante do banco para Angola.
O projeto vai abranger as zonas urbanas da província — cidades de Benguela, Lobito, Baía Farta, Catumbela – concentrando-se em especial na rede de saneamento, reticular onde é possível e também com aprovisionamento de latrinas em áreas um pouco mais rurais, e com intervenção também nas áreas da nutrição e da higiene doméstica.
No total, a carteira ativa — projetos em execução aos quais este se soma – de investimentos do Banco Africano de Desenvolvinento (BAD) em Angola “ronda atualmente os mil milhões de dólares [cerca de 930 milhões de euros]”, adiantou Pietro Toigo, em declarações à Lusa em Sharm el Sheikh, no Egito, onde participa nas reuniões anuais do Grupo Banco Africano de Desenvolvimento.
Este ano, com o financiamento de 125 milhões de dólares mencionado, “o total vai ser de 210 milhões [cerca de 198 milhões de euros]” e para 2024 Pietro Toigo admite que seja possível superar este montante de finanaciamento.
O Banco Africano de Desenvolvinento (BAD) está atualmente a definir a nova estratégia para Angola, que vai abranger o período 2024 a 2028, e a abordagem é olhar para o Plano Nacional de Desenvolvimento, que está a ser preparado pelo Governo, “no qual o banco está bastante envolvido, em interação com as autoridades”.
Pietro Toigo acredita que haverá uma continuidade da estratégia atual, com um enfoque sobre a transformação agrícola, insistindo que é “uma área pilar da diversificação económica e desenvolvimento nacional”, assim como as infraestruturas, “aqui com foco especial na energia e abastecimento de água”.
A par destas, a instituição financeira quer aumentar o trabalho, pouco até agora, admitiu, nos transportes, na criação de emprego para os jovens e na maior capacitação das mulheres, sobretudo o acesso a ensino técnico, ensino superior e científico.
O representante do Banco Africano de Desenvolvinento (BAD) para Angola elogiou o trabalho que nos últimos anos tem sido feito, com “reformas significativas para a diversificação da economia, o apuramento da base fiscal e sobretudo a reestruturação e redução da dívida”.
A divida “caiu desde 2020, quando Angola era um dos países onde os mercados tinham muito receio de um possível ‘default’, dos 134% do Produto Interno Bruto para pouco acima dos 60% por cento, uma reestruturação muito bem sucedida”, destacou.
Contudo, o Governo continua a ter um custo de financiamento da dívida bastante alto, o que tira recursos do investimento no capital humano, nos serviços básicos, no seu crescimento, no emprego, e é aqui que o Banco Africano de Desenvolvinento (BAD) pode vir também a atuar.
“Queremos trabalhar com o governo para apoiar a estratégia do ministro das Finanças para aceder a formas de financiamento mais baratas, nomeadamente através de garantias”, revelou à Lusa o responsável do Banco Africano de Desenvolvinento (BAD).
“Podemos vir a garantir uma parte das emissões [de dívida pública] para baixar os custos. Mas claro que são instrumentos que têm que ser avaliados na base das condições de mercado e, neste momento, os mercados estão bastante complicados, com subida de taxas de juro e turbulência provocada com a falência de bancos americanos”, ressalvou.
Além disso, a facilitação dos negócios em Angola ainda precisa de “muita desburocratização” e de maior transparência, questões especialmente importantes para os investidores internacionais, referiu Pietro Toigo.
“Mobilizar financiamento privado para o clima e crescimento da economia verde” de África é o tema global das reuniões anuais do Grupo Banco Africano de Desenvolvinento (BAD), o evento mais importante da instituição que integra 54 Estados-membros africanos e 27 não africanos, e que este ano decorre, até sexta-feira, no Centro Internacional de Conferências de Sharm el Sheikh, no Egito.
*** A Lusa viajou a convite do Banco Africano de Desenvolvimento ***