Advogados angolanos pedem “suspensão e processo disciplinar” contra presidente do Tribunal Supremo (TS) de Angola

Um Grupo de advogados angolanos avançou com uma ação popular, junto do Tribunal Supremo (TS) de Angola, pedindo a suspensão do juiz presidente do órgão, Joel Leonardo, e “imediata instauração” de processo disciplinar, por alegadas práticas de corrupção.

O coletivo de advogados, liderados pelo advogado José Luís António Domingos, remeteu a ação popular administrativa coletiva à Câmara do Cível, Administrativo, Fiscal e Aduaneiro do Tribunal Supremo (TS) de Angola, segundo o documento a que Lusa teve hoje acesso.

De acordo com os queixosos, os factos arrolados para esta ação estão no domínio público, através de publicações em órgãos de comunicação digitais e “não se encontram já protegidos pelo segredo de justiça, após terem sido amplamente divulgados e sem nenhuma reação das autoridades competentes”.

“Perante as graves denúncias contra o venerado juiz presidente do Tribunal Supremo (TS) de Angola, Joel Leonardo, o que nos move, nesta ação, não é a veracidade ou a falsidade das acusações contra o mesmo, mas a inação do Conselho Superior da Magistratura Judicial (CSMJ), o qual tem o dever constitucional de agir em situações deste género e não só”, dizem.

Joel Leonardo, presidente do Tribunal Supremo (TS) de Angola e por inerência de funções do CSMJ, está a ser investigado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por suspeitas de corrupção, nepotismo, má gestão do órgão e outros, acusações que se arrastam há meses.

Os subscritores da ação popular referem que “não se pode permitir” que um juiz que ocupa o cargo máximo da magistratura judicial angolana seja alvo, “na praça pública, de graves acusações, que aniquilam a sua idoneidade como magistrado judicial, sem que o CSMJ abra o competente inquérito para apurar o que realmente se passa”.

Observam que o “silêncio institucional” alimenta especulação e a “convicção de que as acusações possam ser verdadeiras”.

Segundo os advogados, a sua iniciativa tem amparo na Lei de Ação Popular e consideram que os juízes devem ter uma reputação imaculada e os tribunais devem ser credíveis visando um bem comum de interesse coletivo.

Explicam, no texto, que a presente ação popular visa a suspensão de funções do juiz conselheiro Joel Leonardo, como juiz presidente do Tribunal Supremo, e a “imediata instauração de um processo disciplinar devido a graves factos de que tem sido publicamente acusado”.

“Pretende-se com esta ação popular administrativa preventiva que o Tribunal Supremo (TS) de Angola intime o CSMJ a suspender e a abrir um processo disciplinar contra o juiz Joel Leonardo. Seguir-se-á a competente ação principal”, salientam.

Sem prejuízo da presunção de inocência, observam, “são variados os comportamentos que têm sido imputados ao juiz Joel Leonardo que implicam que o CSMJ abra um processo disciplinar e o suspenda das suas funções, em vez de optar pela inação”, criticam.

Os advogados recordam um conjunto de atos que configuram alegada corrupção do juiz Joel Leonardo, como alegados desvios de receitas do Tesouro no valor de 128 milhões de kwanzas (146.631 euros), alegada transferência irregular da conta do Tribunal Supremo (TS) de Angola a seu favor no valor de 30 milhões de kwanzas (34.366 euros), alegados pagamentos de 13 milhões de kwanzas (14.892 euros) a uma residência particular com fundos do CSMJ e outros.

Os advogados angolanos assinalam ainda, na sua ação popular, não se tratar de confirmar ou não as suspeitas quanto a comportamentos incorretos, eventualmente criminais de Joel Leonardo: “Tal cabe a um tribunal criminal”, realçam.

Acrescentam que o que se invoca “é a existência de suspeitas públicas suficientemente fortes que abalam a confiança do juiz presidente e obrigam o Conselho Superior da Magistratura Judicial a abrir um inquérito disciplinar e suspendê-lo”.

Vários círculos da sociedade civil e da oposição angolana têm criticado as constantes acusações contra o juiz presidente do Tribunal Supremo e questionam a independência do poder judicial angolano, ante as denúncias contra o magistrado.

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