Angola: Activistas e Sociedade Civil protestam contra “permanência do MPLA no poder”

Manifestantes se dizem cansados das políticas públicas do MPLA e deixaram uma urna no Largo da Independência como um ato simbólico do “funeral do partido no poder”, que governa Angola desde o fim do colonialismo no país.

Em toda Angola, o desemprego, a fome e as dificuldades de acesso à saúde e educação –  além da má distribuição da riqueza – são as principais razões que continuam a influenciar os protestos de rua pelo país. Os jovens que em sua maioria participaram da manifestação são munícipes das zonas de Luanda.

Enfrentam sérios problemas sociais como a falta de luz, de água e o alto índice de pobreza e criminalidade. Nos seus cartazes, além de escreverem “MPLA fora!”, também apelam o fim da corrupção e exigem justiça para todos os angolanos.

Estes jovens entendem que já não vai a tempo do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA),  agora liderado por João Lourenço, resolver os problemas do povo, embora seja este o slogan do partido, desde que tomou o poder político em novembro de 1975.

Para os manifestantes, chegou o momento do MPLA “se aposentar” da governação.

“Funeral do partido no poder”

Lúcio Lara, um dos manifestantes afirma que aderiu à manifestação para testemunhar “o funeral do partido no poder”, que considera ser a raíz de todas as dificuldades enfrentadas pelos angolanos.

O povo angolano sofre bastante e não é novidade para ninguém. Há 45 anos que o MPLA mentém o povo e, até hoje, nunca vimos melhorias. Por isso, nós – a sociedade civil contestatária – decidimos nos unir para enterrar o MPLA, hoje”.

Durante os 45 anos de governação, segundo o manifestante que se identificou apenas por Katro, o “MPLA não fez nada”. Para o jovem, há apenas “roubos e mentiras” na gestão do referido partido.

“O saco de arroz continua a subir, há dificuldades para as famílias e pessoas morrem à toa, por falta de comida. Por isso, queremos que o MPLA saia, porque 45 anos de governação é muito”, afirmou o manifestante.

No protesto, também participaram vendedoras ambulantes (zungueiras), que aproveitaram a ocasião para protestar contra os maus tratos da polícia e dos agentes da fiscalização, que muitas das vezes extorquem os seus negócios.

“Zungueiras participam do protesto”

Maria da Conceição é zungueira há sete anos. A jovem de 30 anos pediu que as autoridades tratem as ambulantes com dignidade. “Não somos zungueiras porque queremos. Somos zungueiras por opção. Quando um Presidente quer governar, promete muita coisa. Mas quando assume o poder já não cumpre com as suas palavras. Só queremos que satisfaçam necessidades com o acesso à água, acesso ao ensino e saúde. E não queremos o luxo deles, só queremos ter o pequeno-almoço, almoço e jantar nas nossas casas, assim como eles têm”.

Maria, que vende máscara cirúrgica no Mercado dos Congoleses, defende a implementação das autarquias para permitir a partilha do poder político.

“Gostaria que o MPLA reconsiderasse as eleições autárquicas. O coronavírus não pode ser uma desculpa para o adiamento das autarquias. Já estamos conformados com a Covid-19, e o MPLA deve partilhar o poder com os outros para termos também a oportunidade de escolher as pessoas que vão governar as nossas províncias e municípios”, argumentou.

Além das zungueiras, a manifestação também contou com a presença da Associação de Surdos e Mudos de Angola.

A DW Africa informa que, a manifestação foi escoltada pela polícia nacional e não se registou nenhum incidente. Depois do Largo da Independência, os jovens seguiram para o município do Cazenga protestar contra o novo administrador Tomás Bica, que terá ordenado na sexta-feira (08.01) a detenção de vários ativistas que reivindicavam contra as más condições de saneamento na região.

 

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