A situação de seca e fome em muitas regiões de Angola, principalmente no sul do país, requer uma declaração de estado de emergência, segundo a declaração final saída da plenária da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé, que terminou na segunda-feira, 7, em Benguela. Há quem defende solução interna “com cabeça” para a crise na região através do melhor escoamento de produtos.
Os bispos dizem que esse é o caminho para o país ter acesso à ajuda internacional, mas o Governo continua a recusar, apesar de pedidos feitos há mais de um ano por organizações da sociedade civil na região.
Entretanto, o jornalista e activista Rafael Marques acredita que a saída da crise passa pela criação de condições para a produção e escoamento dos produtos no país.
O padre na região dos Gambos, na província da Huíla, Pio Wakussanga afirma que pela situação actual é urgente que se declare o estado de emergência naquelas paragens porque o Governo sozinho não está a dar conta do recado.
“O aumento exponencial da fome e a má nutrição severa aguda, o aumento de pessoas a fugir para outras localidades cá dentro e muitas a fugirem para a Namíbia e parte para a Zâmbia, com um “enxame” de crianças a se dirigem a nós para pedir comida, o Governo sozinho não consegue resolver o problema, daí ser urgente declarar-se o estado de emergência para termos ajuda internacional”, defende o padre Pio.
Fernando Pacheco, engenheiro agrónomo, diz concordar que para já há pessoas a morrer e não dá para esperar.
“Eu não estou nada optimista em relação ao futuro, a situação tende a agravar-se, eu não me lembro desde a independência de Angola uma situação tão grave como esta, as pessoas estão a morrer e não se pode esperar mais, tem de vir ajuda, é uma questão humanitária”, defende Pacheco.
Pelo mesmo diapasão, o pastor da Igreja Baptista Evangélica de Angola reverendo Ntony a Zinga entende que toda a ajuda para os cidadãos do sul do país é bem-vinda, mas o problema principal é a insensibilidade de quem governa para com a vida humana.
“O problema é da governação, a política passou a ser um jogo ao invés de uma arte de gerir a convivência, como eu vou estar bem se o outro não está, isto não é possível, não compreendo como até hoje o Executivo não prioriza todo o seu esforço na gestão deste assunto”, lamenta aquele líder religioso.
Outra leitura tem o jornalista e activista cívico Rafael Marques para quem estar de mãos estendidas para o exterior não resolve o problema.
“Angola tem de produzir os seus próprios alimentos, não podemos continuar de mãos estendidas à caridade internacional, é só uma questão de usar a cabeça, há zonas onde há muita comida a estragar porque não há escoamento e noutras zonas pessoas a morrerem por falta de comida, um país com grande potencial de água, solos férteis e muita mão-de-obra capaz de resolver a situação em pouco tempo, de resto vamos sempre criar soluções paliativas”, sustenta Marques.
A CEAST reiterou que só com humildade as autoridades decretam estado de emergência, tendo em conta o cenário de fome
“Por um lado, a ajuda para se suprir situações de emergência, mas também para que sejamos ajudados a aprender a produzir aquilo que nós consumimos. Temos um grande país, abençoado com rios, terra, por isso devemos ser também exportadores, não apenas consumir o que recebemos”, argumentou Dom Belmiro Chissengueti, porta-voz da Conferência, no final dos trabalhos.