Os bancos angolanos estão a supervisionar as transações financeiras do setor da saúde, sobretudo devido à covid-19, para “acautelar e travar” eventuais casos de branqueamento de capitais, anunciou a Unidade de Informação Financeira (UIF).
Segundo a diretora-geral da UIF, Francisca de Brito, nenhum setor do país está excluído nas ações do organismo que tutela.
A responsável afirmou que, desde março de 2020, a UIF começou “a receber alertas de que as sociedades seriam atacadas por crimes por causa da covid-19”.
A sociedade angolana “não é uma exceção, sobretudo porque de repente todo o mundo virou comprador de equipamentos para a prevenção e combate à covid-19”.
A responsável falava hoje, em Luanda, durante um debate sobre “Prevenção do Branqueamento de Capitais e o Financiamento ao Terrorismo”, organizado pela Média Rumo, no âmbito das “Conversas com Rumo”.
Na sessão de perguntas e respostas deste encontro, após a exposição inicial da diretora da UIF, a médica angolana e gestora da saúde no setor privado, Nádia Camate, considerou que o setor “é sempre muito esquecido no que ao branqueamento de capitais diz respeito”.
A médica alertou que no setor da saúde angolano, quer no sistema público quer no privado, “também há registos de branqueamento de capitais”, observando: “Existem organizações não-governamentais que vêm para Angola, oferecem o mundo e a cura e, por trás, existe de facto um branqueamento de capitais”.
“Principalmente porque prometem não só a cura ao doente, mas a cura financeira a quem acorre a esses serviços como trabalhador, prometem formações contínuas que não o fazem, salários iguais em relação aos expatriados que trabalham na mesma posição e não o fazem”, apontou.
Nádia Camate recordou que o programa de combate à malária em Angola, “onde se movem rios de dinheiro”, tem registos de branqueamento de capitais, e que acabaram na justiça, receando que o mesmo venha a acontecer em relação à covid-19.
“E o meu medo é que aconteça também com a covid-19, principalmente com os equipamentos de proteção individual. Vemos a vender no trânsito máscara, álcool em gel”, contou, admitindo que “esse material destinado ao serviço público tenha sido desviado”.
Respondendo às inquietações da profissional de saúde, a diretora geral da UIF afirmou que o “mundo do anti-branqueamento sabia que haveria uma festa no setor saúde” devido à covid-19, referindo que em Angola os bancos estão alertados a “supervisionar” operações ligadas à saúde.
A saúde nesta altura “é a mais afetada, mas não está fora”.
“Pedimos aos bancos para serem supervisores nessas operações de saúde, e é mesmo preocupante e também há controlo das ações das organizações não-governamentais nesse domínio”, referiu.
O sistema angolano de anti-branqueamento de capitais e de combate ao financiamento do terrorismo e a prevenção do branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo foram temas em discussão neste encontro.