Angola: “É de hoje… Manifestar não é negócio” – Daniel Costa

Os estilhaços da conversa divulgada entre integrantes dos chamados grupos revus, conversando sobre dinheiros que terão recebido para travar uma manifestação em Luanda, nos últimos dias, serviram de mote para entrevistas fornecidas à imprensa estrangeira.

Longe de se analisar as fragilidades, muito do que se diz está a ser imputado aos possíveis corruptores, como se se estivesse a lidar com gente inocente, de tenra idade e que desconheçam as bases que levam a avaliar uma manifestação em determinados milhões de kwanzas. Se calhar com respigo também de umas notinhas em dólares ou euros.

Na verdade, a venda de manifestações não é um elemento novo no nosso universo político. Há muito que corriam informações de que muitos dos indivíduos envolvidos em tais actos faziam desta actividade um negócio rentável, o que é fácil ser percebido sem muito esforço.

Há dias, em conversa com um amigo, perguntei-lhe quanto custava um encontro entre cinco pessoas para organizar um determinado evento? Tendo em conta que estes precisarão de, no mínimo, cinco garrafas de água e umas sandes para matar a fome, se, tivermos em conta o factor transporte para as deslocações, facilmente perceberemos que não se trata de nenhuma acção que não envolva qualquer gasto.

Partindo deste princípio, chegaremos facilmente à conclusão de que existirá sempre algum ‘benemérito’, embora se parta do princípio de que não existam almoços grátis. Quem o faz poderá estar inclinado no aprofundamento da democracia, mas, no nosso caso, a conversa poderá ter outras interpretações, uma vez que muitos destes vendedores não têm escolha quanto aos que lhes molham as mãos. E esta realidade está muito distante dos sacrifícios que muitos dizem apregoar, quando saem à rua, estas muitas das vezes lavadas com sangue de gente inocente que desconhece, no âmago, os reais propósitos perseguidos pelos realizadores visíveis e os mentores anónimos.

Não faz muito tempo que, através de uma denúncia feita por um revú, soubemos que um grupo, diferente do actual, pretendia do então administrador de Viana, Fernando Manuel, 5 milhões de kwanzas para abortar uma manifestação. Com as denúncias dos últimos dias ficou patente que, para muitos, as cobranças tornaram-se numa forma de ser e de estar na sociedade, por se tratar de um negócio ao que tudo indica rentável.

De que valerá um revú, por exemplo, conseguir um emprego em que se ganhe 100 ou 200 mil kwanzas, quando numa sentada pode obter mais do que 5 milhões por uma ameaça?

Pior do que isso é que exista quem incite a realização das mesmas e outros que paguem estes extorsionistas à justiça.

Manifestar-se é um direito consagrado pela própria Constituição. Podendo ser exercido por todos aqueles que sintam os seus direitos violados, assim como pelos que o fazem no sentido de exaltar ou reconhecer um determinado acto positivo realizado pelo Executivo, Presidente da República ou um outro organismo.

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