Empresário não sabe as razões que levou João Lourenço entregar a obra a empresa ligada ao governador da Huíla, Luís Nunes.
Em entrevista à Rádio MFM, o empresário explicou que os factos remontam ‘a 2014, sendo que o Governo ainda tem por pagar 6 milhões de dólares’. Segundo adiantou, um ano antes, foi abordado por um dos responsáveis do departamento da Direcção de Infra-estruturas do Ministério da Defesa para saber da sua disponibilidade para reabilitar um dos pavilhões do Hospital Militar de Luanda que estava prestes a desa-bar.
O responsável da Defesa alertou, entretanto, na altura, que o Estado-Maior estava sem dinheiro para o pagamento imediato. “Disse-me que havia uma emergência para reparar o pavilhão, mas o Estado Maior das Forças Armadas estava sem dinheiro para fazer algo com a urgência que se impunha. Fomos lá ver, levei os meus técnicos e, de facto, o pavilhão estava comprometido, tinha de ser demolido urgen-temente”, recorda, acrescentando que se manifestou disponível para ficar com a empreitada.
Acto contínuo, conta o empresário, reuniu-se com o chefe de Estado-Maior das Forças Armadas, este que subscreveu a preocupação, mas informou que precisava da aprovação do Comandante em Chefe, no caso, o Presidente da República.
“Depois, ligaram para mim a dizer que o Comandante em Chefe aceita que se faça a obra e que mobilizaria o dinheiro, cerca de 40 milhões de dólares nessa altura”, lembra Bartolomeu Dias, acrescentando que sequencialmente começaram as obras com recursos próprios.
“O edifício que está no Hospital Militar quase acabado foi uma das minhas empresas que fez. Comecei com o meu dinheiro em 2013.”
Em Abril de 2014, João Lourenço substitui, entretanto, Cândido Van-Dúnem como ministro da Defesa e, nessa altura, apesar de a obra já ter estado avançada, começariam os constrangimentos no projecto. Inicialmente com a desvalorização do kwanza, o que forçou concertações em relação aos custos. “Porque os pagamentos são feitos por auto de medição e não se podia fazer auto de medição comprando material no mercado com o câmbio de 180 kwanzas e pagarem a 100 kwanzas o dólar”, justifica o empresário.
Nessa altura, o novo ministro da Defesa João Lourenço decide, entre-tanto, fazer uma visita ao Hospital Militar, o que se seguiu a uma ligação telefónica a Bartolomeu Dias.
“Ligou para mim e reunimos, falamos sobre as obras. Não paramos de trabalhar, mas diminuímos o ritmo para forçar a mudarem o modo de pagamento, situação essa que não aconteceu. Não pagaram, rejeitaram a proposta de revisão do câmbio e o ministro simplesmente orientou para parar e receberam a obra com uma dívida de 6 milhões de dólares”, descreve o empresá-rio, precisando “que não pagam até hoje com a agravante de meterem lá militares e nem os nossos computadores fomos buscar”. “É uma atitude que só se vê em países como a Coreia do Norte e estamos a falar da atitude do ministro, que agora é o Presidente da República, contra um empresário que ele conhece”, critica.
Bartolomeu Dias refere que nunca procurou abordar a Presidência da República para tentar reaver a situação “porque o próprio Presidente assinou um decreto a entregar a obra à Omatapalo”. “Só recebi uma carta da Smportex a rescindir, nem falam sobre a minha dívida, nem pagam e eu sou empresário nacional. O edifício está lá, é um edifício que está quase pronto e ficou parado sete anos porque não queriam que o Bartolomeu Dias terminasse e queriam pagar ao câmbio de 100. Mas agora vejo que o problema não era o câmbio, porque a Omatapalo não será paga ao câmbio de 100”, acrescenta. No entanto, a empreitada entregue à Omatapalo é para a requalificação de todo hospital e está avaliada em 120 milhões de dólares.
Bartolomeu Dias defende a situação mostra a necessidade de se “perceber qual é a estratégia do Governo para com os empresá-rios nacionais”, acusando ainda o Governo de preferir ‘mimar’ os empresários estrangeiros.
Texto do VE