Em Angola, o jornalista António Celemente acusa elementos ligados ao partido governamental MPLA de o perseguir , por ter denunciado um suposto caso de corrupção na eleição de primeiro secretário do partido em Malanje.
António Clemente, há onze anos jornalista da rádio Ecclésia em Malanje, disse à DW África que está a ser alvo de intimidações via telefone, por reportado acusações de fraude na eleição do primeiro secretário do partido governamental Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e atual governador provincial, Norberto dos Santos Kwata Kanawa, por um militante do partido.
As acusações foram levantadas por Afonso Matari, de 67 anos, que disse que o atual primeiro secretário do partido e governador de Malanje lhe dificultou a corrida à liderança partidária na província.
“Depois da matéria ir para o ar, comecei a receber ligações telefónicas por parte de alguns militantes do MPLA”, disse Clemente. “Afirmam que não estão satisfeitos, que serei mal conotado por parte dos militantes do partido no poder em Angola, por divulgar esta notícia”, acrescentou.
MPLA distancia-se das acusações
O comité provincial do MPLA em Malanje refuta as acusações de perseguição do jornalista.
De acordo com o segundo secretário provincial do partido, Manuel de Carvalho, “não há necessidade” de pressionar profissionais da comunicação, principalmente jornalistas da rádio Ecclésia.
“O que a rádio Ecclésia faz em todos os sábados é atirar-se contra o MPLA”, acusou de Carvalho, afirmando que o trabalho daquele órgão de comunicação é “é ativismo político” contra o MPLA. “Mas não há retaliações”, garantiu o político.
António Clemente diz que não tem medo das intimidações de que tem vindo a ser alvo.
O jornalista explica que: “Enquanto eu fizer bem o meu serviço nada me intimida, porque sei as regras de jornalismo”. Clemente acrescentou que “o que eu divulguei não tem nada contra o MPLA, como dizem alguns dirigentes do partido em Malanje”.
“Fenómeno recorrente”
A alegada perseguição ao jornalista preocupa os profissionais da comunicação social em Angola, como José Lino, repórter de imagem da Televisão Pública de Angola no Cuanza Norte.
“Para o nosso contexto podemos esperar um pouco de tudo, represálias, chantagens, discursos musculados com relação a certos jornalistas, que apenas fazem o seu papel de informar”, acusou Lino.
O secretário-geral do sindicato dos jornalistas em Angola, Teixeira Cândido, promete averiguar os factos, mas clarifica que “é uma situação recorrente e nós temos estado a falar sobre ela”.
A perseguição aos jornalistas em Angola representa um atentado ao Estado de direito e democrático, disse o jurista Joaquim Ernesto à DW África, adiantando que considera estes fenómenos “típicos em estados totalitaristas”.