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Angola: O título mais importante do “futebol angolano aconteceu há… 20 anos”

Apesar de ter cumprido um período de estágio de excelente qualidade no Brasil, Angola chegou à Etiópia como uma desconhecida. Ninguém dava vintém pelas “Palanquinhas” e depois de quase terem caído na primeira fase do Campeonato Africano de Sub-20, disputado entre 18 de Março e 1.º de Abril de 2021, acabaram por erguer o apetecido troféu. Foi uma surpresa para quase todos. Menos para Oliveira Gonçalves, que há muito falava da possibilidade de Angola conquistar o título…

Desportivamente falando, o 1.º de Abril não é só dia de aniversário do “histórico” Atlético Sport Aviação (ASA), que hoje celebra 68 anos de existência. É também o dia em que Angola conquistou o seu mais importante título de futebol. Referimo-nos ao Campeonato Africano de Sub-20, disputado na Etiópia, gesta protagonizada por uma das melhores gerações de futebolistas angolanos do pós-independência. E que colocou por muito tempo o país no centro do mapa do futebol africano até que há sensivelmente uma década todo o capital adquirido começou a ser desbaratado.

Até 2001, Angola havia conseguido muito pouco nas competições africanas de futebol, tanto em clubes como em selecções. Mas seis anos antes iniciara um processo de reestruturação liderado pelo luso-cabo-verdiano Carlos Alhinho, contratado para dar outra dimensão competitiva ao futebol de Angola ao nível de selecções. Ele acumulava o cargo de Seleccionador Nacional AA e Sub-23, sendo igualmente o director técnico nacional. Na sequência dessa “revolução”, o país começou a participar em todas as provas em que podia, dos Sub-17 aos AA, passando pelos Sub-20, Sub-23 e até femininos. Por força da nova abordagem da direcção da FAF, Angola logrou qualificação para as fases finais do CAN de Sub-17 no Botsuana’97, repetindo a façanha na Guiné Conacry’99. Por seu turno, a selecção de Sub-20 chegou à última fase da competição africana também em 1999, no Ghana.

Quando Angola chegou à Etiópia’2001, era praticamente uma desconhecida e sequer figurava no grupo dos favoritos à qualificação para o “Mundial” do mesmo ano na Argentina, aonde iam as semi-finalistas. Muito menos era cogitada na shortlist dos putativos candidatos ao título. E havia razões de sobra para que assim fosse. É que, o país não tinha tradição nos escalões de formação e competia com adversários que nesse quesito eram bem renomados. Ghana, Nigéria, Mali e Camarões tinham “escolas” conhecidas e dominavam as provas continentais de jovens. Nem depois de haver cumprido um estágio muito bem-sucedido no Brasil o estatuto de Angola mudou…

Embora tivesse feito uma fase qualificativa esplêndida diante da Swazilândia (1-2 e 6-1) e do Burkina Faso (0-0 e 2-0), foi, pois, na condição de outsider que Angola chegou à Addis Abeba para disputar o “Africano”. E colocada na série B, com Ghana, Mali e Nigéria, teoricamente as hipóteses de triunfo eram muito remotas. No papel, em face do que era o retrospecto dos contendores, Angola estava condenada ao último lugar do agrupamento. Mas só mesmo na teoria, porque o futebol é fértil em pregar partidas e tudo podia acontecer.

Sob comando de Oliveira Gonçalves, as “Palanquinhas” até começaram mal a competição, perdendo o primeiro desafio diante do Ghana por 0-1, em 19 de Março de 2001. Aqui, fartaram-se de falhar oportunidades de golo feito. Era, na perspectiva dos entendidos na matéria, um resultado natural, tendo em atenção o potencial de ambas as equipas. Na outra partida do grupo, Nigéria e Mali empataram sem golos. Dado o valor do adversário seguinte, havia esperança de uma prestação melhorada face ao Mali, no dia 22 de Março, apesar do histórico deste. Mas não aconteceu. O melhor que os angolanos conseguiram foi um empate a dois golos, com tentos assinados por Gilberto e Mantorras. O Ghana bateu a Nigéria por 4-1 e assegurou passagem para as meias finais.

Com esse resultado, Angola dependia de terceiros para continuar em prova, o mesmo que quer dizer a fim de se qualificar para o “Mundial” da Argentina. Precisava ganhar à Nigéria e esperar que o Mali perdesse ou empatasse com o Ghana, entretanto, já apurado. Na delegação angolana houve receios de que a turma ganense pudesse fazer corpo mole. Mas aconteceu exactamente o contrário. Demonstrando compromisso competitivo, os “Black Stars” abordaram o jogo com a maior seriedade possível e… empataram a um tento com o Mali. No lado oposto da cidade, Angola fazia a sua parte, triunfando sobre a Nigéria por 2-0, numa partida que dominou quase por completo. Os golos tiveram novamente a assinatura de Gilberto e Mantorras. Pela primeira vez, Angola se qualificava para um Campeonato do Mundo de futebol.

Ambicioso, Oliveira Gonçalves percebeu que podia ter algo mais. Podia lutar pelo título, como, de resto, sempre disse antes do início do campeonato. Afinal, o oponente da meias-final era a anfitriã Etiópia, cujos argumentos podiam ser facilmente contornados pelas “Palanquinhas”, em condições normais. Dito e certo. No dia 28 de Março, os angolanos rubricaram uma exibição de encher o olho, desfazendo-se da oposição da Etiópia com vitória robusta de 5-2, estando sempre à frente da contagem do marcador. Os assinantes do costume, assim como Loló Kuxima (dois) e Mendonça fizeram as despesas dos golos. Angola estava na final, a primeira continental da sua história… Na outra meia-final, o Ghana superou o Egipto, através de pontapés da marca da grande penalidade, depois de igualdade (1-1), ao cabo dos 90 minutos regulamentares.

Estava, pois, agendado o reencontro entre duas selecções que iniciaram no mesmo grupo. O Estádio Olímpico de Addis Abeba encheu-se para assistir a uma das mais inesperadas finais do futebol africano. O Ghana, em cujas fileiras estavam talentos da igualha de Sulley Muntari, Michael Essien, Derek Boateng, John Mensah e John Paintsil, entre outros, era favorito ao triunfo final. Mas Angola estava super-motivada. Com a pressão de ganhar do outro lado do campo, as “Palanquinhas” desinibiram-se e assinaram uma exibição de luxo, diante de um oponente à altura. Por esta razão, aliás, é que os primeiros 45 minutos terminaram sem golos. Na etapa complementar, porém, Mendonça inaugurou o marcador à passagem do minuto 57 e aos 83 Mantorras sacramentou a vitória com o golo da tranquilidade. Assim, Angola sagrava-se pela primeira vez campeã africana no futebol, até agora o título mais significativo do “desporto rei” do país. Por acréscimo, Mantorras foi considerado o MVP da prova e figurou na equipa ideal – votada pelos técnicos do torneio –, ao lado do seu companheiro de selecção Lamá, o melhor guardião da competição.

Até então, o melhor que havia acontecido ao futebol angolano foi uma vitória da Selecção AA na Taça COSAFA, a competição regional da África Austral, em 1999.

Escreveram esta página vitoriosa do futebol angolano Lamá, Manuel Sala, Dedas, Kikas, Wemba, Mateus, Miloy, Mendonça, Rasca, Mantorras, Loló, Lutucuta, Riquinho, Capoco, Carlitos, Nelo, Ângelo e Fofaná. No comando técnico, Oliveira Gonçalves foi auxiliado por Mabi de Almeida (preparador físico) e Hélder Miguel (Técnico de guarda-redes), tendo como técnico de equipamentos Júlio Lemos. Chefiada por Eufrazina Maiato, a delegação integrou ainda Rui Costa (Chefe-adjunto de Delegação), Joaquim Dinis (Embaixador da FAF), Filipe Mascarenhas (Director Técnico), Nando Jordão (Oficial Técnico), Inácio Silva (Relações Internacionais), Silva Candembo (Oficial de Imprensa), António Emanuel (médico), José Muhondo (fisioterapeuta) e Loid Gonçalves (Tradutora).

Silva Candembo (Correio Angolense )

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