Angola: Que saída da crise para Angola?

Um pai chega em casa e fica sabendo que seu filho está com fome. O primeiro instinto é encontrar comida a todo custo para satisfazê-lo.  É uma questão de racionalidade. Nunca lhe ocorrerá usar um chicote para dissuadi-lo de renovar seu pedido.

 Este raciocínio básico aplica-se bem à situação actual em Angola. É verdade que o país atravessa tempos difíceis, tanto a nível financeiro como a nível de saúde, mas nada impede que sejam feitos esforços excepcionais para pensar em acabar com a crise social com um aspecto político muito pronunciado.

Infelizmente, pode ajudar questionar a imagem do país, especialmente porque o governo está tentando atrair investidores estrangeiros, que não suportam a incerteza.

Convém lembrar que “governar é prever”. É hora de agir a montante para fazer face à eventualidade de consequências nefastas pra a economia angolana já impactada pela queda do preço do barril de petróleo.

Diante desta crise que arisca de continuar, duas opções parecem ser necessárias:

–  O estabelecimento de um governo aberto à sociedade civil poderia dar um pouco de esperança a juventude e ajudar a acalmar os ânimos;

– O status quo com uma política social ambiciosa. Esta segunda opção consistiria em generalizar a concessão de um abono para qualquer filho desde o nascimento, decretando a escolaridade obrigatória até aos dezoito anos com incentivos disponíveis. O acesso a uma plataforma na rede para jovens à procura de emprego é uma boa iniciativa. Esta abordagem seria credível e eficaz se fosse acompanhada do pagamento de prestações para os desempregados, desde que aceitassem seguir a formação profissional relevante ou provassem que procuram activamente um emprego. Este pagamento seria temporário e pode ser interrompido em caso de abuso ou falta de cooperação. Deve incorporar a mentalidade de “dando, dando”.

Uma lei nesse sentido seria votada com urgência pelo Parlamento que determinará as modalidades e fixará os valores das indenizações.

Em qualquer dos casos, o diálogo inclusivo deve orientar os passos do governo. Para um país que há muito sofre uma situação de conflito com graves consequências, a consulta permanente é crucial para evitar mal-entendidos. A mentalidade de ver o adversário político como inimigo é chamada a ceder lugar ao patriotismo com ênfase na reconstrução e no desenvolvimento do país.

É importante que o governo melhore a sua comunicação na luta contra a corrupção, tão cara ao povo angolano. Até agora, dá a impressão de ser seletiva.

O mesmo se aplica à realização das autarquias. Compete ao Presidente da República dar promessas pelo seu cumprimento, fixando o prazo até 2021 antes do final deste ano. Isso ajudará a acabar com todas as especulações e a diminuir as tensões no país.

Angola tem tantos desafios a enfrentar, especialmente a diversificação da sua economia num contexto internacional tão difícil que não pode dar-se ao luxo de manter a incerteza política.

Por fim, a história sempre nos ensinou que a melhor saída para a crise está na vontade de cooperar através um diálogo franco e republicano no que diz respeito à política.

 Pody Mingiedi

Politólogo

Observatório e Análises da política angolana.

Genebra, Suíça

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