Um total de 22 membros brasileiros da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) em Angola, entre pastores e as suas mulheres, receberam já notificação do Serviço de Migração e Estrangeiros para deixar o país, informou fonte da igreja.
Segundo disse à Lusa Ivone Teixeira, porta-voz da ala brasileira da IURD, até ao momento nenhum dos notificados abandonou Angola, apesar de o documento exigir a saída voluntária no prazo não superior a oito dias, a contar da data da tomada de conhecimento da notificação.
Ivone Teixeira revelou que foi interposto na semana passada um ato administrativo, a que chamou “recurso de hierarquia”, dirigido ao ministro do Interior de Angola, Eugénio Laborinho, no sentido de uma revisão do processo, que teve início este mês.
A decisão de cancelamento dos vistos de permanência temporária, concedidos a 51 pastores e bispos, por cessação da atividade eclesiástica em Angola, surge na sequência de um ofício da nova direção angolana da IURD.
A porta-voz da IURD referiu que a última notificação foi recebida na terça-feira passada, salientando que, na carta dirigida ao ministro do Interior, uma das questões reclamadas tem a ver com a falta de contacto prévio, antes da entrega da notificação de abandono.
“Tivemos casos de casais que foram notificados maridos sem as mulheres, tivemos casos em que somente o pastor recebeu o auto de abandono e a esposa não, sendo eles uma família, há o caso de um casal que recebeu a esposa e a filha, e o marido não”, indicou.
Para a igreja, prosseguiu Ivone Teixeira, este é um sinal de que “a própria Comissão de Reforma nem conhece quem são os missionários”.
“Como é possível, (…) mandar-se embora a filha e o pai e a mãe fica? Aí começam as irregularidades”, frisou.
Os membros da igreja criticam também o facto de não terem sido notificados pela instituição eclesiástica.
“Se eu pertenço a uma empresa, quem me vai notificar a dizer que já não quer os meus serviços é a instituição, e não o SME [Serviço de Migração e Estrangeiros], e não fizeram isso porque não há nenhum vínculo”, adiantou.
A Lusa tentou ouvir sobre o assunto o porta-voz do SME, Simão Milagres, mas o mesmo escusou-se a prestar informação adicional, salientando que “é público [a notificação aos pastores] e não é segredo para ninguém”.
O conflito interno na IURD teve o seu início em novembro de 2020, quando um grupo de dissidentes angolanos decidiu afastar-se da direção brasileira, com várias acusações, nomeadamente de evasão de divisas, racismo, prática obrigatória de vasectomia, entre outras, todas recusadas pelos missionários da igreja criada pelo brasileiro Edir Macedo, que acusam também os angolanos de xenofobia e agressões.
Nos tribunais de Angola, depois de iniciadas as divergências entre as partes, agravadas com a tomada pela força de templos em todo o país, correm vários processos judiciais relacionados com a IURD Angola.
Uma Comissão de Reforma de pastores angolanos foi legitimada pelo Estado angolano, tendo a nova direção da IURD, encabeçada pelo bispo Valente Bezerra, sido eleita em assembleia-geral em 13 de fevereiro.