O Governo está inverter a pirâmide das prioridades da saúde em Angola ao apostar na construção de grandes unidades hospitalares, disse o especialista em pediatria e presidente do sindicato dos Medicos de Angola, Adriano Manuel.
Ele falava na sequência da inauguração terça-feira em Luanda pelo presidente João Lourenço de um hospital materno infantil de sete andares, com área administrativa, banco de urgência, consultas externas, unidades de cuidados intensivos pediátrico com 10 incubadoras de última geração.
“Afinal quais são as grandes prioridades? Construir grandes unidades hospitalares que não têm uso, ou combater as principais causas de mortalidade no país?”, interrogou o Dr Adriano Manuel para quem “podemos fazer 1000 hospitais grandes mas se não olharmos para o sistema de saúde primário, não vamos melhorar a nossa saúde, é só ver que mesmo construindo grandes hospitais a mortalidade não diminui”.
Outro especialista em saúde que entende estarem invertidas as prioridades no sector é o médico Set Lavoka, que disse que construir grandes hospitais face à situação em Angola “é um erro crasso, (pois) a aposta devia ser na medicina preventiva ao invés da curativa”.
O médico sugere a aposta na saúde primária, com incidência em medicos de família lá onde estão as comunidades.
“Cada quarteirão numa comunidade deve ter pelo menos um médico de família e um enfermeiro especializado em saúde comunitária, todo morador deste quarteirão deve ser acompanhado por este médico de familia antes de ir a qualquer outra unidade terciária, por exemplo quantos hipertensos, quantos diabéticos ha naquele quarteirão, estes doentes serão seguidos por esta dupla de profissionais, como se faz em Cuba por exemplo”, disse.
Outro médico Rosalon Pedro pensa que o tipo de doenças que mais ceifam vida em Angola não devem ser tratadas nos grandes hospitais.
“As nossas principais patologias como a malária, as infecções intestinais, as doenças crónicas não transmissíveis como a hipertensão, diabetes etc são causadas essencialmente pelo estilo de vida das pessoas, a alimentação, o sedentarismo etc e isso não se resolve construído grandes hospitais”, disse.
“Eu considero um contra-senso fazer grandes investimentos em hospitais enquanto nas comunidades faltam os centros primários de saúde que podem dar resposta a estes pequenos problemas lá mesmo onde surgem”, disse.