Angola/Uíge: Oposição denuncia “detenções contínuas” dos seus membros pelo o Serviço de Investigação Criminal (SIC)

Segundo populares e políticos, detenções continuam a ocorrer na província do Uíge. Dirigente da oposição teve de fugir. Situação é ainda tensa, quatros dias após confrontos entre militantes do MPLA e da UNITA.

Quatro dias após o desentendimento entre os militantes do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), ocorridos no último sábado (19.03) no município do Sanza Pombo, a situação naquele zona do norte de Angola continua tensa.

As detenções prosseguem contra todo o cidadão conotado com a oposição, segundo alguns munícipes ouvidos pela DW África.

De acordo com os relatos dos populares, as detenções contra os membros do maior partido da posição, a UNITA, continuam em toda a província. A situação de perseguições levou um dirigente do Bloco Democrático (BD), partido que integra a Frente Patriótica Unida (FPU), a fugir para escapar das prisões que ocorrem em todos os 16 municípios do Uíge.

Em declarações feitas à DW África, o secretário-geral deste partido, Muata Sebastião, denunciou que devido a ameaças, o secretário municipal do BD teve que fugir para um lugar mais seguro.

“O nosso secretário municipal viu-se obrigado a refugiar-se nas matas ao redor do município com alguns ativistas, porque o agudizar da situação faz com que todos aqueles marcados como opositores, ao nível do município, estejam em risco”, reporta Sebastião, que acusa o regime no poder em Angola de restringir o exercício das liberdades fundamentais na província.

“A maioria desses cidadãos no pleno exercício dos seus direitos são obrigados a abandonar as suas famílias por conta do alto índice de intolerância política que se vive no município”, completou.

“Caça às bruxas”

Uma mulher que não participou do evento político da UNITA também terá sido detida, relatam testemunhas que, nesta quarta-feira (23.03), levaram o seu filho de oito meses à cela para ser amamentado.

“Aqui na capital é demais. Achoque detiveram mais de 15 pessoas. Entre os detidos estão dirigentes e militantes de base. As perseguições continuam. Praticamente, todos que se identificam com a UNITA arriscam serem detidos”, sublinha Guimarães Kanga, um morador do município do Uíge, sede da província, que descreveu a situação como “caça às bruxas”.

Entretanto, circulam nas redes sociais vídeos em que um dirigente do MPLA no Sanza Pombo ordena a militantes que ataquem membros do maior partido da oposição, a UNITA.

Kinkani Ngangu, outro munícipe do Uíge, considera seletivas as detenções conduzidas pelo Serviço de Investigação Criminal (SIC).

“No confronto, há sempre dois lados. Mas até agora, nenhum militante do MPLA foi detido. Houve militantes da UNITA feridos durante o confronto. Se estão feridos, é porque alguém do MPLA os feriu. Mas ninguém do MPLA está detido. Achamos estranho e é por isso que muita gente considera isso de perseguição”, disse Ngangu.

A UNITA acusa o MPLA de inviabilizar as suas atividades em todo o país mesmo com o aviso feito ao Governo angolano.

TPA acusada

O secretário provincial do galo negro no Uíge, Félix Simão Lucas, nega que o seu partido terá começado com a briga e acusa mais uma vez a Televisão Pública de Angola (TPA) de manipulação dos factos.

“Fomos nós, a UNITA, que convidámos a TPA. A TPA não podia fazer uma subversão de informação daquela forma. Nós fomos atacados porque fomos festejar. Dizer que fomospara fazer confusão é falso. Não podia ir fazer confusão levando pastores, levando a minha esposa e os meus filhos menores de idade”, rebate as acusações o dirigente máximo da UNITA no Uíge.

O Serviço de Investigação Criminal (SIC) recusou responder às questões da DW África e limitou-se a enviar uma nota de imprensa em que informa a detenção de 30 militantes do maior partido da oposição por “atos de arruaça e vandalismo”.

O SIC diz que os militantes, munidos de paus e catanas, vandalizaram a sede municipal do MPLA, as instalações da rádio Sanza Pombo, bem como a residência da administradora do município.

“Preocupantes sinais de intolerância”

O político angolano Abel Chivukuvuku alertou hoje para “preocupantes sinais de intolerância” política em Angola, numa altura em que o país prepara eleições gerais, e sublinhou que sair do poder “não é o fim”.

O ex-dirigente da UNITA, principal partido da oposição angolana, que foi também presidente da coligação CASA-CE e atualmente lidera o projeto político PRA-JÁ Servir Angola, falava após um encontro, em Lunda, com a comissão organizadora do congresso “Pensar Angola”.

“Começam a surgir sinais preocupantes de intolerância e dificuldade de aceitação recíproca da diferença”, alertou Chivukuvuku, aludindo aos confrontos em Sanza Pombo.

Também o ex-primeiro-ministro angolano Marcolino Moco, que participava do mesmo evento, criticou o que considerou serem “comportamentos inaceitáveis”, a propósito dos confrontos recentes entre militantes do MPLA (no poder) e UNITA (oposição).

Marcolino Moco defendeu ainda a conciliação, em vez de exclusão, e pediu fim aos conflitos.

 

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