Fez cair Williams, continuou Serena e tem o mundo a seus pés: Naomi Osaka vence Open da Austrália e consegue quarto Grand Slam da carreira
“Não sinto as minhas pernas. As minhas pernas estão a tremer, o meu coração está acelerado. Tive uma sensação estranha, estava super excitada mas ao mesmo tempo com os pés pesados, as minhas pernas estavam frescas mas ao mesmo tempo não se mexiam. Só no final, no terceiro set, consegui recuperar a minha intensidade mas chegar à final do Open da Austrália é fantástico. Tive um jogo difícil com a [Naomi] Osaka na meia-final do último US Open e ela até disse que foi um dos dois melhores encontros que já jogou…”. Jennifer Brady já tem 25 anos, estreou-se pela primeira vez num Grand Slam em 2014 mas revelou quase um faceta de alguém que acabou de aparecer nos grande palcos. O que, verdade seja dita, também não é assim tão errado: à exceção da meia-final no US Open de 2020, nunca tinha passado de uma quarta ronda. Agora, pela primeira vez, chegava a um jogo decisivo.
Como explicava o The New York Times, a americana teve um efeito contrário às duas semanas de confinamento antes do início do torneio e encontrou nesse período um impulso para as duas melhores semanas da carreira. Já a ESPN tinha muitos outros pormenores sobre essa vida fechada sem acesso aos courts de ténis, ao ginásio, ao ar fresco (a não ser na varanda) ou às sessões em campo com a sua equipa: levaram-lhe os mantimentos à porta por forma a que pudesse comer todos os dias de manhã aveia, pediu todos os dias (às vezes em duas ocasiões) comida do Hunky Dory (uma cadeia de restaurantes conhecida pelo fish and chips), falou sempre por Facetime com Anett Konvaveit e Sloane Stephens, recusou ver Netflix porque sabia que se ia perder-se em séries. Durante o dia, colocou o colchão na parede e trabalhou o jogo de pés nos limites de um tapete. Um mês depois, estava na final.
O caminho justificou a presença na decisão mas pela frente esteve uma Naomi Osaka que mostrou mais uma vez que as finais não se jogam, ganham-se. E na quarta decisão em Grand Slams, a japonesa conseguiu também a sua quarta vitória noutros tantos anos, começando da melhor forma um 2021 onde aposta muito em termos desportivos e também fora de campo, não só na luta pela liderança do ranking WTA mas também nos Jogos Olímpicos que se irão realizar no seu país e numa série de ações que têm reforçado o seu papel de ativista, como ficou bem patente no último US Open, no envolvimento no movimento Black Lives Matter ou na aposta recente numa equipa americana de futebol feminino. Após ter derrotado nas meias a irmã mais nova das Williams, quebrando a hipótese da experiente jogadora chegar ao 24.º Grand Slam numa saída onde não evitou as lágrimas, Osaka manteve-se Serena e saiu de Melbourne como tinha chegado: com o mundo a seus pés.
Desde Serena Williams que uma jogadora não ganhava pelo menos um Grand Slam em quatro anos consecutivos (a americana conseguiu seis, de 2012 a 2017). E desde Monica Seles que não havia uma jogadora a ganhar as quatro primeiras finais de Grand Slam. Como diz a antiga número 1 do mundo, Justine Henin, “é atualmente a patroa do ténis”. E conseguindo evoluir na terra batida e na relva, onde nunca passou da terceira ronda desde 2016, não há muitas dúvidas que os próximos anos do quadro feminino terão um nome incontornável no topo: Naomi Osaka. Até porque, em 12 jogos feitos dos quartos para a frente em Grand Slams, a japonesa ganhou sempre.
Mas o rumo dos acontecimentos poderia ter sido diferente. Aliás, podia ter mudado radicalmente na nona partida do primeiro set, altura em que Brady fez uma fantástica bola no serviço de Osaka que lhe permitiu ter um ponto de breaknão aproveitado. A japonesa conseguiu segurar o seu jogo de serviço, fechou depois em 6-4 no serviço da americana e fez uma série de seis jogos consecutivos que lhe deu uma “almofada” de 4-0 no arranque do segundo parcial que lhe permitiu ir gerindo de outra forma a boa réplica de Jennifer Brady na final.
Antes, a americana mostrou a sua versão mais guerreira, fazendo o contra breakdo 3-1 para o 3-2 e superando uma natural ansiedade que foi condicionando o seu melhor jogo apresentado na meia-final com Karolína Muchova. O encontro teve história até ao 4-4, altura em que o plano anímico fez a diferença: Osaka evitou o break, levantou-se do susto e partiu para uma exibição convincente e quase sem erros; Brady revelou-se impotente para travar o jogo da japonesa, somando também vários erros não forçados sem conseguiu apresentar o que de melhor tem. De forma natural, a vitória era uma questão de tempo. E o encontro fechou com 6-3 no segundo set.