O Conselho Nacional da Juventude (CNJ) não passa de um movimento que ajuda o MPLA a perpetuar-se no poder, acusa o braço juvenil da UNITA, que abandonou o órgão por considerar que é instrumentalizado pelo partido de João Lourenço.
Nelito Ekuikui, secretário-geral da Juventude Unida Revolucionária de Angola (JURA), o braço juvenil da União Nacional para Independência Total de Angola (UNITA), o maior partido da oposição, acusa o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) de instrumentalizar o CNJ, razão porque suspendeu a participação neste órgão.
“Contestamos a instrumentalização do Conselho Nacional da Juventude pelo MPLA, particularmente pelo Presidente da República”, João Lourenço, afirma Ekuikui em entrevista à DW África. E se o Conselho Nacional da Juventude (CNJ) “não voltar para os carris”, defende, “não tem necessidade de continuar a existir”.
DW África: Antes de mais, o que é o Conselho Nacional da Juventude?
Nelito Ekuikui (NE): O Conselho Nacional da Juventude é uma plataforma apartidária, cujo objetivo é defender os direitos da juventude, ajudando os governos a criar políticas públicas, normas jurídicas e outros instrumentos capazes de garantir a execução dos direitos da juventude.
DW África: E o Conselho Nacional da Juventude cumpre esse papel para que foi criado?
Nelito Ekuikui (NE): O que acontece em Angola, é que temos um Conselho Nacional da Juventude, presidido por um militante do MPLA – estou a referir-me ao presidente do CNJ, Isaías Kalunga, que é um quadro do MPLA. O Conselho Nacional da Juventude transformou-se hoje num movimento de culto de personalidade do presidente do MPLA, e concomitantemente da República, cuja imagem ou popularidade está muito para baixo.
DW África: O Conselho Nacional da Juventude, pelos seus estatutos, é suposto ser um símbolo da juventude?
Nelito Ekuikui (NE): O Conselho Nacional da Juventude deixou de ser um símbolo da juventude. Não tem símbolos próprios. Usa-se a fotografia oficial do Presidente da República como símbolo do Conselho Nacional da Juventude. Portanto, estamos a falar de quem? O presidente do MPLA, que é concorrente direto da UNITA.
E a JURA, enquanto braço juvenil da UNITA, e a UNITA, sendo um partido vocacionado para o poder, interessado em governar Angola e que tem estado a trabalhar para ganhar eleições, não podem de maneira alguma legitimar uma instituição juvenil que se desviou do seu objetivo inicial para ajudar na manutenção do poder de um partido político que há muitos anos vem negando liberdade, igualdade de oportunidades aos angolanos.
DW África: Portanto, o que defende é a extinção do CNJ ou a possibilidades de reformar esse órgão?
Nelito Ekuikui (NE): O CNJ terá de voltar para os seus carris. Agora, se não voltar para os carris, também achamos que não tem necessidade de continuar a existir.
DW África: Pode dar alguns exemplos do que classifica de instrumentalização do CNJ pelo MPLA?
Nelito Ekuikui (NE): Por exemplo, convoca uma atividade de jovens e chega lá o presidente do Conselho Nacional da Juventude (CNJ) está a fazer um discurso de apoio, uma moção de apoio ao presidente do MPLA. É inaceitável que o presidente do Conselho da Juventude vá ao Cuando Cubango, com camisolas do Presidente da República e prometa dinheiro.
O Conselho Nacional da Juventude (CNJ) usa bens públicos como casas, dinheiros, supostamente para ajudar a juventude, jovens bem selecionados, jovens críticos e, no final, condiciona a consciência da juventude com um sentimento de gratidão. Então, nós achamos que o caminho que nós optamos é o melhor. Os angolanos não estão preparados para continuar a legitimar este grupo. Por isso mesmo, a JURA estaria a legitimar este grupo que faz a manutenção do poder do MPLA.