Abrandamento da produção petrolífera é o principal risco para o crescimento económico do país. Apesar das medidas governamentais, assimetrias regionais ainda são muito acentuadas, destaca a Universidade Católica.
Economia angolana está a caminho de uma sexta recessão económica este ano, com o crescimento a ser estimado em -1,98%, depois de passados cinco anos de recuos no PIB.
As previsões são apontadas pelo ‘Relatório Económico de Angola 2019/2020’, do Centro de Estudos e Investigação Científica (Ceic), da Universidade Católica de Angola, que projecta o regresso ao crescimento apenas em 2022 (1,54%) e fundamenta as metas deste ano com o facto de a produção petrolífera manter-se em “queda livre”.
As previsões orçamentais para este ano apontam para uma produção diária acima dos 1,2 milhões de barris por dia, mas os últimos dados têm-na colocado na casa dos 1,1 milhões, havendo, entretanto, leituras que não descartam recuos mais significativos. Ou seja, a produção abaixo de 1 milhão de barris em algum mês do ano. “Com este andamento, poderá haver uma recessão maior no final de 2021. E a produção petrolífera, infelizmente, é que faz o crescimento económico em Angola. Se Angola não aumentar a produção petrolífera, o crescimento económico vai ser adiado”, observa Francisco Paulo, um dos investigadores permanentes do Ceic.
Paulo lembrou também, na apresentação do relatório, que, aquando do lançamento do Plano Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM), havia “esperanças” de que o programa pudesse acelerar o crescimento económico, mas, “infelizmente”, não se está a fazer “sentir”.
PERSPECTIVAS DE RISCOS
Até 2022, de acordo com o relatório, a economia angolana vai apresentar cinco grandes riscos. Os riscos têm que ver com o comportamento do preço do petróleo, e a probabilidade de se desviar do cenário base que são os 68 dólares por barril, apesar do acordo com o FMI. O elevado peso da dívida pública, tanto a interna como a externa, que podem limitar a captação de investimento directo estrangeiro, e a contração de empréstimos nos mercados internacionais são outros riscos apontados. O potencial efeito negativo de contágio sobre o sector financeiro derivado da transição para o regime cambial flexível e o declínio na produção petrolífera também constam dos riscos.
O estudo foca ainda que a redução da dependência petrolífera “vai levar tempo e a diversificação das exportações mais tempo ainda, porque o país não tem um ADN exportador”.
As assimetrias regionais são também destacadas. O relatório explica que não havia um modelo de crescimento que as atenuasse. “O interior é cada vez mais interior”, precisa. Luanda e Bengo, por exemplo, concentram mais de 56% de toda a indústria transformadora, em “nítido contraste” com a região centro e leste. As assimetrias são ainda destacadas no emprego, com Luanda numa posição largamente dominante.
Os pesquisadores ressaltam que a Lei de Investimento Privado não vai ser suficiente para inverter a concentração da iniciativa privada nas zonas que actualmente mostram condições de competitividade bastante acima da média nacional, nem mesmo para diversificar as estruturas produtivas das regiões. “Para se ter um crescimento no sector não-petrolífero, os investimentos devem ser feitos em especial nas infra-estruturas. O sector industrial está num sistema em que boa parte das fábricas instaladas no país foram feitas tendo em mente a importação de matéria-prima. Não se pensou que era necessário que houvesse também empresas que produzissem matéria-prima local para alimentar estas fábricas”, destaca.