Diplomacia: Estados Unidos “seriamente preocupados” com ações da Rússia face à Ucrânia

Em África, Blinken diz que as preocupações são partilhadas por aliados, embora não tenha referido se os serviços norte-americanos colocam hipótese de Putin ter interesse em tomar território ucraniano.

O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, reiterou este sábado que os EUA estão “seriamente preocupados” com as ações e declarações da Rússia em relação à Ucrânia, onde as tensões estão a aumentar.

“Temos sérias preocupações sobre as atividades militares não comuns da Rússia na fronteira com a Ucrânia. Estamos realmente preocupados com parte da retórica que vemos e ouvimos da Rússia, bem como nas redes sociais”, disse Blinken numa conferência de imprensa em Dakar, no Senegal, onde realiza a última etapa da sua primeira visita a África.

De acordo com Blinken, as preocupações são “amplamente partilhadas” pelos aliados dos Estados Unidos, embora não tenha dito se os serviços de inteligência norte-americanos consideram que o Presidente russo, Vladimir Putin, tem interesse em tomar território ucraniano.

“Não sabemos quais são as intenções do Presidente Putin. Mas sabemos o que aconteceu no passado. Conhecemos a estratégia consistente em criar provocações ilusórias na Ucrânia ou em qualquer outro país e usá-las como desculpa para os planos da Rússia”, salientou o chefe da diplomacia norte-americana.

Blinken referia-se à crise de 2014 na Ucrânia, que surgiu após a queda do governo pró-ocidental de Kiev.

Nesse mesmo ano, Moscovo anexou a península ucraniana da Crimeia, como resposta àquilo que qualificou de revolução pró-ocidental.

A região de Donbass, no leste da Ucrânia, atravessa uma guerra desde 2014 que fez mais de 13.000 mortos entre as forças de Kiev e separatistas pró-russos, que são apoiados pelo Kremlin, apesar de a Rússia negá-lo.

Na quinta-feira, o presidente russo, Vladimir Putin, acusou o Ocidente de alimentar as crescentes tensões nas fronteiras orientais da Ucrânia e no Mar Negro.

Putin acusou ainda os bombardeiros ocidentais de se aproximarem de 20 quilómetros do território russo.

O governante norte-americano está numa viagem por África, com passagem por Quénia, Nigéria e Senegal.

EUA prometem investimento em África sem sobrecarregar os países com dívida

O chefe da diplomacia dos Estados Unidos disse também este sábado, em Dakar, que o seu país está disposto a investir em países africanos sem gerar “dívidas que estes não conseguem suportar”, no final da primeira digressão pelo continente.

Antony Blinken assinou na capital do Senegal, onde chegou na sexta-feira vindo da Nigéria, vários contratos com o governo senegalês para construir infraestruturas avaliados em cerca de mil milhões de dólares.

“Os nossos projetos no Senegal, e para mim isto é o mais importante, baseiam-se nos valores que, como países democráticos, partilhamos, como a transparência, a responsabilidade, o Estado de direito, a concorrência e a inovação”, afirmou o secretário de Estado norte-americano em conferência de imprensa.

“Esperamos criar empregos locais, proteger os trabalhadores e o ambiente e reduzir a corrupção, tudo sem sobrecarregar os países com dívidas que não conseguem suportar”, acrescentou.

Blinken fez o anúncio depois de garantir na sexta-feira que o governo dos EUA trata o continente africano como uma “grande potência geoestratégica”, mas também com críticas aos acordos com a China para construir infraestruturas na região.

Advertiu que tais acordos podem ser “opacos, coercivos, sobrecarregar os países com dívidas incontroláveis, ambientalmente destrutivas e nem sempre beneficiar as pessoas que vivem lá”.

“Vamos fazer as coisas de uma maneira diferente”, prometeu Blinken.

Estes comentários surgem numa altura em que a China, que arrebatou a Washington a liderança económica em África em 2009, mantém a sua posição como principal parceiro comercial do continente africano, de uma forma cada vez mais indiscutível.

Ainda este mês, o Senegal irá acolher uma importante cimeira entre África e a China que procurará reforçar a cooperação entre os dois blocos.

Esta viagem tem sido marcada pela vontade do Presidente norte-americano, Joe Biden, de restaurar as relações de Washington com África.

Nos seus discursos, o secretário de Estado repetiu a promessa de Biden durante a sua campanha eleitoral, de melhorar os laços da Casa Branca com África de uma forma “respeitadora de ambos os lados”.

O diplomata anunciou na sexta-feira, na Nigéria, a intenção de Biden convocar uma cimeira com os líderes africanos, embora não tenha antecipado qualquer data.

Blinken iniciou a sua digressão no Quénia na passada quarta-feira e abordou questões sensíveis que dizem respeito à Casa Branca, como a guerra na Etiópia, com um apelo ao Governo etíope e aos rebeldes na região de Tigray para negociarem “o cessar das hostilidades”.

Na Nigéria, o chefe da diplomacia norte-americana declarou-se “profundamente preocupado” com a resposta dos militares sudaneses contra os manifestantes e exigiu o fim da violência.

O diplomata norte-americano passou hoje as últimas horas da sua digressão em Dakar criticando a possível presença de mercenários russos no Mali.

“Seria especialmente lamentável se os atores externos se envolvessem (na situação do Mali) para dificultar ainda mais as coisas”, disse Blinken.

 

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