Analistas defendem sindicância profunda à petrolífera angolana Sonangol. Afirmam ainda que Isabel dos Santos não teria prosperado nos negócios se não fosse a filha do Presidente de Angola.
Analistas ouvidos pela DW África defendem que se faça uma sindicância à petrolífera angolana Sonangol, empresa estatal da qual a empresária Isabel dos Santos é acusada de ter desviado fundos quando exerceu as funções de presidente do Conselho de Administração.
A investigação deve abranger também as administrações de outras personalidades, dizem os analistas.
O jornalista angolano José Gama afirma que no processo de desvios de dinheiro da maior empresa estatal de Angola se fala apenas dos “pecados” de Isabel dos Santos e “se escondem” as informações de desfalque antes do ex-Presidente José Eduardo dos Santos nomear a filha para a chefia da empresa em 2016.
José Gama diz ser necessário que se faça uma investigação à Sonangol.
“Durante muitos anos, a Sonangol foi vista como o centro da corrupção em Angola. Passaram por lá Quim David, Manuel Vicente, Lemos Maria, Isabel dos Santos e outros. Até aqui, nunca se fez sindicância sobre os mandatos destes. Estão a concentrar-se apenas no consulado de Isabel dos Santos,” afirma, reforçando aquilo que a própria empresária angolana defendeu em entrevista à DW África.
Crimes na Sonangol
Em entrevista exclusiva à DW África, a empresária angolana considerou que o “Luanda Leaks” foi uma “encomenda”de quem pretendia atacá-la pessoalmente. Para José Gama, Isabel dos Santos não deixa de ter razão.
O analista diz que o facto de as autoridades angolanas negarem a solicitação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito movida pela União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) prova a existência de vários crimes na Sonangol.
“O propósito foi Isabel dos Santos. Se houve um propósito, alguém desenhou a estratégia do vazamento dos documentos. Apenas vazaram documentos exclusivos ligados ao consulado de Isabel dos Santos. Portanto, Isabel dos Santos não está errada quando diz que aquilo se tratou de uma encomenda,” defende o jornalista. “Agora, a autoria da encomenda não se sabe se cabe ao Estado angolano. Mas foi feito no interesse do Estado angolano,” acrescenta o jornalista José Gama.
Desvio do erário público
O analista político Ilídio Manuel discorda das declarações de Isabel dos Santos. O também jornalista diz que a filha de José Eduardo dos Santos criou a empresa Unitel com dinheiro da Sonangol e com autorização do pai.
“O seu pai, naturalmente era a pessoa que detinha o poder político e também o financeiro. Foi justamente aí que ela constituiu,” afirma.
“Esse argumento não colhe, é muito vazio, porque ninguém vai acreditar que ela conseguiu por si só. Aliás, também não acredito que haja empresário em Angola que tenha prosperado sem que tivesse recorrido ao erário ou o beneplácito do partido governante,” vinca o analista, numa referência ao MPLA no poder.
Ilídio Manuel diz que a petrolífera sempre foi caracterizada pela falta de transparência da gestão.
“Todo o mundo sabe que a gestão da Sonangol sempre foi feita entre o presidente do Conselho de Administração e o Presidente da República. Acredito que este figurino, que vem do tempo de José Eduardo dos Santos, não tenha mudado. Continua tudo na mesma”, diz o jornalista que exige mais transparência na maior empresa do país e que mais contribui para o Orçamento Geral do Estado angolano.