EUA: Enfermeiros angolanos podem voltar “à greve” em junho por falta de segurança e até romper negociações com o Governo

O Sindicato dos Enfermeiros de Angola ameaça encerrar os trabalhos noturnos nas unidades hospitalares de Luanda por falta de segurança e até romper negociações com o Governo, caso não haja resposta às suas exigências.

Face ao número crescente de casos de familiares de pacientes que agridem os profissionais por falta de condições para atender os doentes, o Sindicato dos Enfermeiros de Angola está a equacionar a hipótese de encerrar os trabalhos noturnos nas unidades hospitalares de Luanda.

As preocupações dos enfermeiros são as mesmas há vários anos. E são do conhecimento da entidade patronal, segundo o Sindicato. Os técnicos de saúde exigem o reajuste salarial, a implementação dos subsídios de horas extras, o regulamento da carreira de enfermagem, a criação de condições para assistência médica e medicamentosa dos profissionais de enfermagem e dos seus familiares e reabastecimento regular de fármacos, materiais gastáveis e de biossegurança em todas as unidades sanitárias do país.

Depois de uma reunião de seis horas com o Ministério da Saúde, na terça-feira (25.05), os enfermeiros ponderam ainda decretar uma greve geral em junho. O próximo encontro ficou marcado para 14 de junho.

Em entrevista à DW África, o secretário-geral do Sindicato, Afonso Kileba, admite a hipótese de abandonar o diálogo. “Reivindicamos para que o Ministério reponha a legalidade que nos tinha retirado. Se não o fizer, não haverá entendimento. Dia 14 de junho, provavelmente, vamos romper com a comissão negociadora se o ministério não se pronunciar positivamente e, nessa altura, cada um vai definir como será o funcionamento das unidades sanitárias a nível do país”, revelou.

Condições de trabalho deploráveis

As condições de trabalho para o pessoal de enfermagem estão cada vez mais deploráveis, diz Afonso Kileba. A agravar a situação, segundo o líder sindical, os profissionais das unidades de saúde dos bairros periféricos são frequentemente agredidos nos locais de serviços por familiares de pacientes. “Assistimos constantemente a violações desse direito”, lamenta.

“No domingo, recebemos informação do centro de saúde do Bairro Malanjino, onde uma colega foi agredida pelos parentes dos doentes por volta das 23 horas, porque o centro de saúde não dispunha de materiais gastáveis para atender o doente que apresentava febre. Os familiares foram contra a técnica. Um dos acompanhantes, supostamente agente da polícia, fez disparos na unidade sanitária, ameaçou os colegas com pistola e até hoje, só para terem uma ideia, as estruturas não se pronunciam sobre o assunto”, conta Afonso Kileba.

Uma técnica de enfermagem do Hospital Neves Bendinha, que pediu o anonimato, confirma os casos de agressões a enfermeiros. “Queriam que fossem atendidos, mas como não tínhamos material para atender, passamos a receita para comprarem pelo menos a ligadura para serem atendidos. O jovem rasgou a receita na nossa presença e disse que não podia comprar o medicamento porque aqui é o hospital e já tem tudo. Corremos muitos riscos”, relata.

Agressões a enfermeiros

O sindicato ameaça suspender os turnos da noite se o Governo não criar condições de segurança nos próximos dias: “Já apresentamos esta preocupação no caderno reivindicativo a nível da província de Luanda em que dizíamos que, caso não haja policiamento no período noturno, seguranças capazes de dar solução a esta situação, os serviços noturnos vão encerrar porque não estamos em condições de ter uma surpresa com os nossos colegas que trabalham diariamente nos períodos noturnos”, diz Afonso Kileba.

Aguardam agora pela resposta do gabinete provincial. “Não sendo assim, então, não estaremos em condições de continuar a trabalhar no período noturno”, conclui o secretário-geral do Sindicato.

Nos últimos dias, circulam nas redes sociais imagem de hospitais com pacientes a dividirem camas e alguns, a receber assistência médica no chão. Uma dessas cenas foi registada no Hospital Américo Boa Vida em Luanda. A direção da unidade foi exonerada dias depois pela ministra da Saúde, Sílvia Lutucuta.

O secretário-geral do Sindicato dos Enfermeiros diz que há enchente em todos os hospitais de Luanda. Malária, diarreias e doenças do fórum respiratório são os principais casos que estão abarrotar as unidades hospitalares. “Lamentamos o facto de o nosso ministério e o gabinete provincial quando encontram uma unidade sanitária com estas características querem exonerar o diretor. Não é solução”, critica Afonso Kileba.

 

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