“Kwanza desvalorizou 7% desde janeiro mas não há motivo para pânico” — Banco Central de Angola (BNA)

O Governador do Banco Nacional de Angola (BNA) disse hoje que não há motivos para pânico face à desvalorização do kwanza, falando em “correção do mercado”, que o regulador quis “suavizar” colocando Obrigações do Tesouro no mercado.

José de Lima Massano, que falava no Bié, após a 111.ª reunião do Comité de Política Monetária, lembrou que o petróleo e gás geram cerca de 95% dos recursos cambiais para Angola, pelo que qualquer alteração nas quantidades produzidas ou preços nos mercados internacionais influi no funcionamento da economia.

“E nos primeiros quatro meses do ano o que observamos foi uma queda das receitas de exportação”, sublinhou, indicando que esta teve reflexos na oferta de divisas que foram visíveis também na plataforma Bloomberg FXGO, disponível para as negociações em moeda estrangeira entre grandes exportadores e compradores.

“[Sobretudo nos últimos dois meses] registámos uma queda de 40% nessa plataforma de recursos cambiais e passámos a assistir a um conjunto de situação, alguma já tínhamos superado, de operações pendentes”, disse Lima Massano.

O responsável deu conta de que passaram a receber reclamações sobre operações que não estavam a ocorrer nos prazos devidos.

“O instrumento que temos de correção entre oferta e procura é o preço e o que estamos a assistir é a este novo ajustamento, determinado por forças do mercado, que está a levar a uma pressão sobre a moeda nacional”, referiu, indicando que, desde janeiro, o kwanza depreciou 7% face ao dólar.

O governador salientou que o Banco Nacional de Angola (BNA) tem responsabilidades sobre a estabilidade de preços na economia, sublinhando que a taxa de câmbio é um fator muito importante para formação de preços, mas também é responsável pela manutenção das reservas internacionais, que devem ser mantidas no patamar mínimo de seis meses de importações, em que se encontram atualmente.

Por outro lado, notou que o Banco Nacional de Angola (BNA) atua sempre que há distorções no mercado, sobretudo quando possam ser entendidas como transitórias.

“Neste momento, não temos qualquer indicação de que a redução observada na oferta de cambiais nos últimos dois meses seja algo de temporário, daí que se tivéssemos de intervir para manter a taxa de cambio as reservas internacionais teriam já caído em cerca de mil milhões de dólares, um exercício que causaria outros danos à economia”, explicou, falando em ajustamentos de mercado

“O mercado tem-se ajustado, mas entendemos que este ajustamento também causa riscos e, por isso, resolvemos colocar títulos detidos pelo Banco Nacional de Angola (BNA) em moeda estrangeira à disposição dos operadores económicos e dos cidadãos, investindo em moeda nacional”, salientou.

O governador considerou que, por essa via, há condições de preservar poupanças e gerir o risco cambial.

“Foi o instrumento que encontramos para suavizar”, prosseguiu, ressalvando que “não se trata de uma intervenção propriamente dita, nem de qualquer situação que possa ser entendida como pânico”.

“O que estamos a assistir é uma correção do mercado face aos novos equilíbrios que são impostos por este fenómeno de redução acentuada das nossas exportações num período relativamente curto”, frisou.

Lima Massano afirmou que a inflação é um tema de grande preocupação para o BNA, “a quem incumbe responsabilidade de preservar o valor da moeda e o seu poder de compra”, e cuja ação vai no sentido de influenciar a estabilidade de preços na economia.

“A inflação é um mal, gera pobreza (…) Vamos continuar a assegurar estabilidade de preços na economia com os instrumentos que temos a disposição”, garantiu o responsável do Banco Nacional de Angola (BNA).

Este ano, a “ambição” passa por trazer a inflação para um intervalo entre nove e 11%, mas é preciso avaliar o impacto da desvalorização do kwanza.

“Continuamos a trabalhar nesse sentido, veremos agora o que nos traz este impacto da variação mais acentuada do preço da moeda, que acabou por ser um dos motivos que nos leva nesta altura a manter inalteradas as taxas de política monetária”, concluiu.

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