O Principal Partido da Oposição angolana, UNITA manifestou preocupação com “um desvio deliberado” dos propósitos que estiveram na base da criação da Comissão para a Implementação do Plano de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos (Civicop).
Num comunicado, o Secretariado Executivo do Comité Permanente da Comissão Política da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) refere que tomou conhecimento por via de uma reportagem difundida pela Televisão Pública de Angola, sobre a descoberta de ossadas, “que alegadamente pertencem a antigos dirigentes da UNITA, vítimas de conflitos internos”.
No documento sublinha-se que “a Civicop foi criada no espírito de perdão e com o propósito de reconciliar a família angolana bem como honrar a memória das vítimas, ocorridas em todas as províncias do país, durante a guerra fratricida e conflitos internos”.
“Este propósito, na altura, foi saudado e apoiado pela direção da UNITA tendo, para o efeito, indicado dois representantes para a mesma comissão”, refere-se no comunicado.
Para a UNITA, é uma preocupação o “desvio deliberado dos propósitos que estiveram na base da criação da Civicop, pois esta foi transformada numa instrumentalidade partidária de arremesso e julgamento público de adversários políticos como inimigos”.
“O Secretariado Executivo do Comité Permanente da Comissão Política da UNITA condena veementemente a forma como a Civicop exibiu as ossadas de algumas das vítimas, em desrespeito pelas famílias, valores e tradições africanas, pelo que exige a retomada dos objetivos e princípios que nortearam a sua criação, o mais urgente possível”, destaca-se na nota.
A UNITA informa que o seu Comité Permanente vai reunir-se brevemente “para analisar a situação” agora criada “e ponderar os passos subsequentes”.
Nos últimos dias, a Civicop anunciou que terá localizado, no município do Cuemba, província do Bié, as ossadas de Ana Savimbi, dos generais Bock, Perestelo, Tarzan e Antero, através de reportagens divulgadas pela televisão pública angolana.
Em 2019, o Presidente angolano, João Lourenço, criou a Civicop, encarregue do plano geral de homenagem às vítimas dos conflitos políticos, que ocorreram em Angola, entre 11 de novembro de 1975 e 04 de abril de 2002, e dois anos depois pediu desculpas às famílias, em nome do Estado angolano, estando em curso o processo de identificação e exumação dos corpos que devem ser entregues às famílias para funerais condignos.
Entre os conflitos destacam-se a “intentona golpista do 27 de Maio [de 1977] ou eventuais crimes cometidos por movimentos ou partidos políticos no quadro do conflito armado”.
No âmbito do processo, foram já entregues às famílias as ossadas de dirigentes da UNITA mortos nos conflitos pós-eleitorais, em 1992, nomeadamente Salupeto Pena, Jeremias Chitunda, Mango Alicerces e Eliseu Chimbili.