O Embaixador Português em Luanda considera que a relação Portugal-Angola é hoje pautada pela “maturidade”, depois de ultrapassados os “irritantes” e com a passagem do tempo a amenizar a “turbulência” recente entre os dois países.
Em entrevista à Lusa Francisco Alegre Duarte, embaixador de Portugal em Angola, considera que as “relações hoje em dia são excelentes, sem os chamados irritantes, pautadas pela igualdade, fraternidade e acima de tudo maturidade”, salientou o diplomata, reconhecendo que a passagem do tempo “ajudou”.
“Tivemos uma guerra colonial, houve uma revolução em Portugal, houve uma descolonização turbulenta, houve uma guerra civil e grandes mudanças em Angola, nomeadamente em termos demográficos o que tem também repercussões políticas”, salientou, notando que a idade média da população angolana é de 17 anos, o que significa que a maior parte dos angolanos nasceram depois da guerra civil (que acabou em 2002) e da Independência, conquistada em 1975.
“Eu não sofro de complexos coloniais ou neocoloniais. Acho que é tempo de termos entre nós uma relação madura e exigente e esse tempo já chegou”, enfatizou o diplomata, sublinhando que as relações “são excelentes” e “cúmplices”, como comprova a relação entre os dois Presidentes, João Lourenço, e Marcelo Rebelo de Sousa, que esteve em Angola por duas vezes no ano passado.
Para Francisco Alegre Duarte, a “dita turbulência permitiu construir uma relação entre iguais” que tiveram, de certa forma, “uma libertação conjunta”.
“Gostaria muito que assinalássemos conjuntamente o 25 de abril” que está prestes a celebrar o seu cinquentenário, em 2024, tal como acontece com Angola que comemora os seus 50 anos como país independente em 2025.
“Isto está tudo ligado”, comenta, assinalando que a aproximação de Portugal a Angola não se resume ao plano económico, estendendo-se às artes e à cultura, com destaque para artistas como o humorista Gilmário Vemba ou músicos como Matias Damásio, Paulo Flores, Yuri da Cunha que gozam de grande popularidade nos dois países
“Há aqui um enorme manancial de oportunidades e não pode ser o Estado a fazer tudo”, prosseguiu, incentivando os grandes clubes portugueses a criar academias e Angola e as universidades a adotarem um papel “mais agressivo” no que diz respeito, por exemplo, à captação de alunos.
Apesar do número de emigrantes ter vindo a diminuir desde 2015, Angola continua a atrair portugueses. Segundo o último relatório do Observatório da Emigração, o país africano encontrava-se no top 10 dos destinos favoritos – o único não europeu – existindo atualmente mais de 127.000 portugueses registados em Angola (dos quais 60% com dupla nacionalidade).
Uma atração que se justifica, segundo Francisco Alegre Duarte, devido à “relação densa” e às ligações familiares com Portugal, bem como a história, a língua e as relações económicas.
“É uma comunidade diferente da que temos na África do Sul, Venezuela ou Brasil, é muito entrosada, muito ligada por laços familiares à sociedade angolana e que prefere pautar a sua presença pela discrição”, descreve o embaixador, apontando entre as suas prioridades o reconhecimento do “contributo que (os portugueses) dão para a economia e sociedade angolana”.
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