Mais de 300 mil eleitores angolanos na diáspora não foram registados para as eleições gerais de agosto. O Governo diz que a Covid-19 foi o principal fator que impediu os serviços consulares de recensearem mais cidadãos.
Joson Gama, estudante angolano no Brasil, não atualizou o registo porque na cidade onde reside o Estado angolano não criou condições para o efeito. O registo eleitoral oficioso ocorreu nas missões consulares onde há maior número de angolanos.
O estudante de Administração Pública e Finanças Públicas que reside em Salvador, na Bahia, aponta a falta de organização e ineficácia da informação sobre o processo.
“Não consegui atualizar o meu registo devido à falta de organização e de estruturas da comissão do Ministério da Administração do Território (MAT) junto dos consulados. É difícil depender de um único posto colocado nos lugares onde se encontram mais angolanos. Para nós que vivemos distantes foi difícil atualizar o registo porque também a informação sobre a atualização não foi passada da melhor forma”, critica.
Jason Gama acredita que se o registo no exterior fosse online, muitos angolanos na diáspora exerceriam o seu direito de voto.
Sem poder votar em agosto próximo, o estudante angolano no Brasil, diz-se triste, porque gostaria apostar na alternância política em Angola.
“Colocarmos as eleições como caminho viável para a mudança, para mim, pode ser só mais um passo. Mas, há muita coisa enraizada que tem que se mudar a partir da base. A Comissão Nacional Eleitoral (CNE) deve ser verdadeira. Não adianta nada entrarmos no processo eleitoral com a Comissão Nacional Eleitoral (CNE) a favorecer um e menosprezando outros”, asseverou.
Só 18 mil angolanos efetuaram o registo no estrangeiro
Ao contrário do que Ministério da Administração do Território e Reforma do Estado previa em janeiro, apenas 18 mil angolanos efetuaram o registo eleitoral oficioso no estrangeiro, segundo o diretor nacional do Registo Eleitoral Oficioso, Fernando Paixão. A previsão era registar 450 mil eleitores.
À margem da Conferência Internacional sobre Justiça Eleitoral em Angola realizada na terça-feira (24.05) pela ADRA – Ação para o Desenvolvimento Rural e Ambiente, Fernando Paixão disse que a pandemia provocada pelo novo coronavírus foi um ’empecilho’ para o processo de registo no estrangeiro que começou em janeiro deste ano.
“O registo eleitoral no exterior não devia ser abrangente do ponto de vista de estarmos em todos os locais, porque fizemos o registo num período de pandemia. Estávamos confinados com malas, com máquinas e com o pessoal. As nossas equipas apanharam também a doença, são humanas. Houve equipas que tiveram que ficar de quarentena um mês”, justificou Fernando Paixão à imprensa.
O número de angolanos que vão ficar sem votar no estrangeiro não é preocupante para o Governo, segundo o diretor nacional do Registo Eleitoral Oficioso.
“Nem pode preocupar. Não é o grande número que fica sem votar, porque já disse que deste número, muitos desses angolanos já não são angolanos como tal. Nós fizemos o registo num período de muita pandemia. Isto é um facto. Temos angolanos a residirem fora dos locais onde estão as nossas missões diplomáticas. Isso também é um facto”, afirmou.
“Quem conhece Faro, de Faro para Lisboa, em custos, são cerca de 300 euros. Não vejo um angolano que está residir em Faro, sair de Faro para ir a Lisboa fazer o seu registo”, acrescentou.
Falta de informação
O jornalista angolano José Gama, que reside na África do Sul, diz que faltou “publicidade mais agressiva” sobre o registo eleitoral no estrangeiro.
“No exterior há uma cultura dos angolanos de evitarem as representações diplomáticas, porque há aquele mito do passado de que se aí forem e deixarem os seus documentos vão ser fiscalizados, e isto terá contribuído para que muitos se afastassem”, disse o jornalista.
José Gama espera que o Governo aprenda com os “erros” desta primeira experiência do registo eleitoral no estrangeiro, para que, no futuro, mais angolanos participem nas eleições.
“Há angolanos no Panamá, localidade onde não há consulado ou embaixada de Angola. Esses tinham que se dirigir a um consulado ou embaixada no Brasil para fazer o registo, e então estes acabaram por não ir também devido à distância”, referiu.
Quando faltam cerca de três meses para as eleições, decorre agora em Angola o processo de verificação dos dados dos eleitores registados até ao princípio de abril.
Governo e oposição trocam acusações sobre a publicação das listas dos cidadãos registados, que permanece sigilosa.