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“Cresce em Angola cultura da intimidação que gera medo e insubordinação” — Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST)

Os Bispos católicos angolanos disseram hoje que cresce no país a “cultura da intimidação, geradora do medo e da insubordinação”, e consideraram que as últimas eleições ajudaram a perceber a “necessidade urgente” de se investir em instituições republicanas.

Segundo os bispos da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), as quintas eleições gerais angolanas, realizadas em 24 de agosto de 2022, foram um acontecimento importante, que “apesar das várias perplexidades” permitiram manter a continuidade governativa.

“Mas, ao mesmo tempo, ajudaram a perceber a necessidade urgente de se investir nas instituições republicanas que estejam acima dos interesses partidários e na reforma profunda do Estado”, referem, num comunicado a propósito da abertura da I Assembleia Plenária da CEAST, que se iniciou hoje, em Luanda.

Para os bispos católicos, a consciência cívica e política dos cidadãos “felizmente cresce dia após dia clamando não por uma Angola de militantes, de patriotas comprometidos e consequentes, não por uma Angola de intriguistas, intolerantes e elitistas, mas por uma Angola de todos e para todos”.

Os bispos pedem ainda uma Angola “inclusiva, acolhedora e cultora do mérito, da competência, do diálogo consensual e da alegria para todos os seus filhos e filhas e incentivadora da convivência plural, cordata e fraterna”.

“Não obstante as dificuldades próprias, inerentes ao mundo político governativo, continuamos a alimentar a esperança de dias melhores para o nosso país”, afirmam.

Na mensagem assinada pelo presidente da CEAST, José Manuel Imbamba, e apresentada à imprensa pelo vice-presidente da conferência episcopal, Estanislau Marques Chindecasse, os prelados saúdam também os esforços do executivo na luta contra a pobreza.

Enaltecem a aposta na reconstrução e recuperação de estradas, principalmente primárias, a construção de escolas, hospitais e de mais empreendimentos estruturantes, mas alertam para a “tensão”, que dizem existir, entre as obras de âmbito central e provincial.

“Estas provocam inércia e lentidão em situações que exigem respostas rápidas”, sinalizam os bispos da CEAST, lamentando, no entanto, a “preocupante” situação de pobreza em que se encontram muitas famílias angolanas.

“Apesar da vontade expressa, o quadro social do país continua a inspirar muitos cuidados, o nível de pobreza das nossas famílias continua preocupante”, afirmam.

Aludindo a um relatório da organização não-governamental Ação para o Desenvolvimento Rural e Ambiente (ADRA), os bispos referem que os angolanos que vivem em zonas mais recônditas do país sentem a pobreza “numa proporção asfixiante”.

“Daí a vulnerabilidade a que estão expostos diante de muitos charlatões e burladores”, realçam.

Criticam também o “elevado índice” de desemprego, sobretudo no seio dos jovens, considerando que a situação está a provocar a fuga de muitos deles para outras paragens do mundo.

A “delinquência e a violência estão aumentando por conta também do uso substâncias psicoativas que pouco a pouco vão ganhando mercado, novos corruptos e corruptores estão a nascer adiando sempre o desenvolvimento do país e a satisfação dos cidadãos”, apontam.

Alertam ainda que “está a crescer a cultura da intimidação, geradora do medo e da insubordinação”, deploram o elevado número de crianças fora do sistema de ensino e afirmam mesmo que o sistema de saúde do país “se mantém doente”.

“Enfim, a estrutura social continua desestruturada potenciando situações de violência, vício generalizado e injustiças endémicas”, acrescentam.

No entender dos bispos da CEAST, a solução para os referidos problemas passa pelo “envolvimento de todas as forças ativas da sociedade, incluindo a igreja”, e urge a “reforma autêntica do Estado”, a renovação interior de todos os cidadãos, bem como a concretização do sonho das autarquias.

“Impõe-se uma escolarização forte, desde o pré-escolar ao superior, com o foco na ética e valorizando a figura do professor”, defendem.

Encorajam igualmente o espírito de “diálogo permanente” com as classes associativas e profissionais, visando encontrar melhores caminhos de satisfação e motivação, e consideram que o Estado deve “potenciar as famílias”, com o necessário, para a garantia da dignidade e paz social.

A autossustentabilidade da Igreja em Angola, Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Lisboa 2023 e o Acordo Quadro entre a Santa Sé e o Estado angolano, assinado em 2019, são alguns dos temas em reflexão nesta plenária da CEAST, que se estende até à próxima quinta-feira.

Os trabalhos, que congregam bispos oriundos de todas as províncias angolanas e de São Tomé, decorrem na sede da conferência episcopal, na capital angolana.

 

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