Angola: “Entre pagar a dívida ou investir em sectores produtivos”, com aumento do preço do petróleo

O preço do barril de petróleo não pára de subir desde que eclodiu a guerra na Ucrânia e o facto tem provocado alguma euforia em Angola, país produtor de petróleo. Alguns especialistas sugerem investir em sectores produtivos, outros lembram que esse “boom” é transitório.

O preço do Brent está hoje em 132 dólares o barril.

Alguns consideram ser uma oportunidade para alavancar a economia angolana, mas a ministra das Finanças, Vera Daves, refreou estes ânimos ao dizer recentemente que, apesar da subida do preço, a criação de uma reserva financeira está condicionada à dívida externa do país.

Alguns especialistas ouvidos pela VOA discordam de Vera Daves.

A ministra afirmou que a dívida externa do país impede que se criem reservas financeiras com o superávit da venda do petróleo porque parte da dívida é paga com o crude.

O economista Carlos Padre afirma, no entanto, que Angola tem outras prioridades.

“O nosso país não avança, temos défice de emprego, não se criam riquezas por causa desta maneira de pensar, a dívida realmente é preocupante, mas para mim não é essencial, eu penso que esse excedente resultante do aumento do preço do petróleo deveria ser canalizado para o Fundo Soberano e para o Banco de Desenvolvimento para financiar outros sectores da nossa economia”, aponta Padre, quem lembra, por exemplo, que “os EUA são um dos países mais endividados do mundo, entretanto, todos querem continuar a fazer negócio com os norte-americanos e isto deve-se à sua grande capacidade de pagar”.

Os Estados Unidos, continua aquele economista, ganham essa capacidade “com financiamento da sua economia, quando se financia a agricultura, a indústria”.

Quem também pensa que a dívida pode esperar é o professor e especialista em finanças públicas Eduardo Nkossi, para quem “não aproveitar o boom do preço do petróleo é um erro enorme”.

Ele diz que não se deve utilizar este ganho só para paar dívida, mas “há fazer uma opção inteligente, aproveitar este boom do petróleo”.

Nkossi lembra ainda que a previsão do pagamento para amortizar a dívida existe antes da publicação da lei orçamental, por isso “o Governo deve usar o excedente para investir” nos sectores que vão potenciar o desenvolvimento económico do país.

Por seu lado, David Kissadila, especialista em gestão de políticas públicas, entende que o ponto de vista da ministra das Finanças deve ser levado em conta.

“A nossa dívida, por exemplo, com a China é paga em petróleo e aqui o país pode aproveitar e entregar uma maior quantidade possível de barris à China para tentar amortizar a dívida, depois temos que considerar que esta é uma situação temporária de guerra que a qualquer momento pode terminar e o preço volta à situação anterior”, alerta Kissadila.

Eduardo Nkossi afirma entender que “por ser mesmo uma ocasião passageira, o país deva saber aproveitar e não gastar com dívidas”.

A ministra das Finanças, Vera Daves fez as declarações na sessão parlamentar que aprovou o Relatório de Execução do Orçamento Geral do Estado (OGE), referente ao segundo trimestre de 2021, no passado dia 3.

 

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