Nimi a Simbi: “O Presidente João Lourenço fracassou”

Em entrevista à DW África, Nimi a Simbi, presidente da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), diz que as políticas públicas de João Lourenço fracassaram e garante que FNLA será mais “atuante” nas eleições de 2022.

Em exclusivo à DW África, o sucessor de Lucas Ngonda à frente da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) falou sobre o estado da Nação, as eleições gerais de 2022 e a crise interna do seu partido, que se arrasta há décadas.

Nimi a Simbi diz que a situação social em Angola é deplorável e as políticas públicas do presidente João Lourenço fracassaram.

“O nível de vida está péssimo, as pessoas estão a sofrer. Isso vê-se a olho nu. Acho que nessa parte económica, etc, o Presidente João Lourenço fracassou. Os preços sobem quase todos os dias. Ele fracassou mesmo”, sublinha.

Esta sexta-feira, (15.10), o presidente João Lourenço discursa no Parlamento angolano sobre o “estado da nação”, na abertura do ano legislativo 2021/2022.

Questionado sobre as suas expetativas relativamente a esse discurso, a resposta de Nimi a Simbi é clara: “Não espero nada”.

“Se durante quatro anos não mudou o nível social dos angolanos, o que é que ele vai dizer? Não é uma vara mágica que ele vai bater e os problemas aparecem resolvidos. Os problemas resolvem-se com o tempo. Se durante quatro anos não conseguiu, em um ano vai conseguir? Vamos ver esse milagre, talvez”, acrescenta.

Luta contra a corrupção

A “cruzada contra a corrupção” é o cavalo de batalha do Presidente João Lourenço desde a sua tomada de posse, em setembro de 2017. Nimi a Simbi questiona essa luta e diz que a governação angolana não é transparente.

“Desde que começou, quanto é que ele já recuperou? E o dinheiro recuperado foi canalizado para onde? Esse dinheiro ajudou a melhorar a vida dos angolanos? Porque as informações que temos apanhado ao nível internacional, são biliões que foram desviados”, afirma.

À semelhança de muitos críticos, o político também diz que a luta contra a corrupção é seletiva, lamentando que muitos ex-titulares de cargos públicos que, supostamente desviaram o dinheiro do Estado, continuem “à solta”.

Nimi a Simbi também comentou o recente acórdão do Tribunal Constitucional que invalida o congresso da UNITA que elegeu Adalberto Costa Júnior em 2019.

“É um acórdão só para atrasar as coisas. Daqui a seis meses Adalberto vai voltar de novo. Volta na mesma situação”, considera.

Acabar com a crise interna

Se Adalberto Costa Júnior voltar a ser eleito no congresso do partido, as dúvidas sobre a sobrevivência da Frente Patriótica Unida (FPU) poderão ser dissipadas.

Sobre se o seu partido fará parte desta frente da oposição, Nimi a Simbi afirma que “é cedo ainda para FNLA pensar nisso”.

“Neste momento isso não está dentro das minhas preocupações. Aliás, esse assunto não é do presidente do partido. Esse assunto é dos órgãos que orientam a política da FNLA. Quer dizer, o Bureau Político e o Comité Central”, explica.

Para já, as prioridades dos primeiros meses do seu mandato são a unificação da organização assolada há décadas por uma crise interna, diz a Simbi.

“Estamos a trabalhar efetivamente para acabar com a crise. Sabe que, em princípio, é um processo. Não é de um dia para o outro que tudo muda. Vamos trabalhando para tentar virar essa página”, adianta.

A viragem passará certamente pela reconciliação com Pedro Dala, que foi eleito presidente da FNLA num congresso em agosto, tendo sido considerado ilegal. Nimi a Simbi diz estar aberto ao diálogo: “A terapia para todas as crises é o diálogo. Tem que se disponibilizar para dialogar para um entendimento mútuo”.

O político apela ainda à unidade na diversidade: “Lanço apelo a todos os militantes, amigos e simpatizantes da FNLA, para nos juntarmos todos e trabalharmos. Não tragam problemas, tragam soluções porque os problemas já temos muitos no seio do partido”.

Eleições gerais de 2022

Nas eleições gerais de 2022, o político diz que se pode esperar “uma FNLA atuante, que vai procurar contribuir para resolver e depois mobilizar os seus militantes”.

Nimi a Simbi nega as alegacões de que o seu partido seja constituído maioritariamente por “velhos” num país jovem e promete que vai injetar sangue novo nos desafios políticos que se avizinham.

Em Angola, pouco ou quase nada se fala sobre Holden Roberto, o líder fundador da FNLA que foi descrito pelo sociólogo e jornalista angolano João Paulo Ganga como o “Pai do Nacionalismo Angolano”.

Nimi a Simbi garante que a sua força política vai divulgar mais os feitos de Holden Roberto.

“Eu, durante o meu mandato, vou fazer um esforço para tentar divulgar cada vez mais a imagem de Holden Roberto. Holden Roberto, como Paulo Ganga disse, é o pai do nacionalismo angolano, ele é que libertou Angola, isso não há dúvidas. Tudo o que se conta por aí não é verdade”, garante.

 

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