O presidente da Cruz Vermelha de Angola (CVA) pediu hoje a intervenção do Presidente angolano, João Lourenço, para “acudir” a situação de mais de 80 funcionários da instituição, que estão há mais de dois anos sem salários.
Segundo Alfredo Elavoco Pinto, a instituição que dirige caminha em duas velocidades, cuja “grande preocupação” recai sobre os cerca de 85 funcionários que estão há mais de 24 meses sem salários, lamentando a falta de respostas do Ministério das Finanças.
“Já reunimos com o Ministério das Finanças, particularmente com o secretário de Estado das Finanças e Tesouro, em outubro do ano passado, onde vimos a viabilidade para a liquidação dos salários, a reunião foi ótima, mas até ao momento não temos o ‘feedback’ sobre o assunto”, afirmou hoje o responsável em declarações à Lusa.
A falta de salários na CVA, instituição de utilidade pública angolana que celebra em 16 de março 44 anos de existência, já foi igualmente apresentada aos deputados angolanos e não mereceu qualquer seguimento.
Daí que, realçou, “pedimos, encarecidamente, ao Chefe de Estado angolano para intervir neste caso e pedimos como cidadãos, no exercício da cidadania, para intervir neste assunto tão caricato”.
“Pedimos reiteradamente ao Presidente da República para intervir discricionariamente neste processo, porque achamos que os departamentos ministeriais levam muito tempo para dar resposta, deste modo ver pessoas a trabalhar sem salários é doloroso”, frisou.
A Cruz Vermelha de Angola precisa de cerca de 16 milhões de kwanzas (28,8 mil euros) para pagar mensalmente os salários e recebe “casualmente” do Ministério da Saúde entre 316.000 kwanzas (569 euros) e 800.000 kwanzas (1,4 mil euros).
“Esse dinheiro [do Ministério da Saúde] vem de forma aleatória e nada podemos fazer porque se divide pelas 18 províncias do país”, notou Alfredo Elavoco Pinto.
Com a resolução dos salários “já poderemos reformar muitos trabalhadores, que já deram o seu melhor desde o tempo de guerra, e estão sem reforma, porque não temos estado a pagar os salários por falta de dinheiro”.
Um seminário internacional do Direito Internacional Humanitário e Doação de Sangue está previsto para 16 de março próximo, no âmbito das festividades dos 44 anos de existência da instituição.
A revisão dos estatutos, adequando-o à Lei do Voluntariado, e do plano estratégico da organização fazem parte das ações a CVA, que, “apesar das dificuldades”, conta com uma delegação de peritos a trabalhar em projetos de intervenção de emergência nas províncias do Cunene, Huíla e Namibe.
“Estes peritos devem finalizar uma maquete administrativa e depois se deslocam novamente ao Cunene, província do sul de Angola assolada pela seca e fome, para fazer a distribuição de comida para 500 famílias”, referiu o dirigente.
Alfredo Elavoco Pinto queixou ainda de “interferências” alegadamente de “altos funcionários do Estado angolano” nas ações da CVA que visam “obstruir o seu mantado e o bom nome da organização criando reuniões paralelas”.
“Sabemos que a nossa organização vive de imagem, qualquer descalabro esta imagem desaparece, e agora que estamos a tentar a levantar esta imagem ainda aparecem forças adversas para tentar destruir a imagem, que está sendo construída com muito sacrifício”, apontou.
Sem especificar, afirmou igualmente que os referidos obstrutores “querem assaltar” a CVA “para fazer negócios”: “Daí que continuamos remitentes e isso está a nos custar muito caro, inclusive a nossa dignidade a nível nacional e provincial”.