Angola: Há hipóteses de “João Lourenço” não vencer as eleições do MPLA?

Moção de apoio a João Lourenço levanta dúvidas sobre chances reais de outros candidatos à presidência do partido. Dirigentes do MPLA dizem que críticas à democracia interna do partido não passam de “ruídos”.

A moção de apoio à recandidatura de João Lourenço ao cargo de presidente do MPLA levanta dúvidas sobre a chance real dos múltiplos candidatos que se colocam como alternativa para a liderança do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA). Analistas ouvidos pela DW África arriscam que esteja a decorrer uma espécie de “simulação de democracia interna” no partido, que seria descortinada no seu VIII Congresso.

As receções de candidaturas encerram-se no dia 5 de novembro, e António Venâncio é o único militante que formalizou a intenção de concorrer à presidência, para além da aprovação da recondução do atual líder.

No sábado (23.10), o comité Provincial do MPLA em Luanda organizou uma marcha de apoio a candidatura de João Lourenço. Por outro lado, o engenheiro civil António Venâncio, o único militante que manifestou a intenção de disputar a liderança, ainda não recebeu apoio público de nenhum membro do partido.

As chances de Venâncio

Venâncio precisa ter 2 mil apoiantes para concorrer no congresso, mas não preenche os espaços noticiosos dos principais meios de comunicação controlados pelo Governo – o que o deixa em condições desiguais em termos de propaganda política.

Para o analista Osvaldo João, a história de múltiplas candidaturas no MPLA não passa de truque de “manipulação” para provar uma “suposta” democracia interna. Osvaldo João crê que o partido mostra mudanças superficiais, que não se fazem sentir internamente.

“É natural que ele [António Venâncio] venha publicamente manifestar a intenção de concorrer à presidência e que o MPLA tenha políticas internas que possam apoiar a sua candidatura. Mas conseguimos ver apenas posições que os militantes tomam de forma a diversificar a dinâmica do partido”, afirma.

Já o coordenador do Projeto Agir, Fernando Sakuayela Gomes, considera que a moção da direção do MPLA à candidatura de João Lourenço demonstra concorrência desleal. Para Sakuayela Gomes, o pré-candidato – que se mostra irredutível na ideia de enfrentar o Presidente João Lourenço no congresso – tem sido isolado.

O ativista chama a atenção que os órgãos públicos não estiveram presentes à conferência de imprensa de António Venâncio. Sakuayela Gomes defende que já seja altura de o partido que governa Angola desde a independência enfrente opiniões diferentes internamente.

“A pluralidade, que também se tentou abraçar nos novos tempos, fica novamente beliscada. Esperamos que o MPLA consiga se refazer do monopartidarismo, da monovisão, da mononomenclatura para poder contextualizar-se”, opina.

Não passam de “ruídos”

Para Joaquim Mingues, membro da Subcomissão de Mandatos da Comissão Preparatória do VIII Congresso Ordinário do MPLA, a realizar-se de 9 a 11 de dezembro em Luanda, essas críticas não passam de “ruídos” e garante que o MPLA concede tratamento igual aos candidatos.

Mingues explica que o sistema eleitoral do partido prevê diferentes etapas: o período de candidaturas, de campanha eleitora e de eleição em congresso. “É o sistema que consideramos ser o melhor às especificidades do partido e creio que está aqui a se fazer alguma confusão. Os militantes que participam da eleição para presidente fá-lo-ão em congresso”, disse o político do MPLA em declarações à rádio MFM.

Num áudio publicado nas redes sociais, Tchizé dos Santos – política que foi suspensa do Comité Central do MPLA – fez saber que almeja a Presidência de Angola e fez um apelo aos demais integrantes do partido.

“Aos camaradas que têm trajetória, que têm capacidade, apresentem-se para apoiarmos outras listas. Se mais [membros] não têm coragem de se apresentar, apresentem-me, para tirar este camarada que destrói o nosso partido”, disse a filha do ex-Presidente José Eduardo dos Santos.

 

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