Portugal recusa-se a comentar sobre a “acusação da Frente de Libertação do Enclave de Cabinda (FLEC)” de que estará a apoiar militarmente Angola na guerra em Cabinda

Frente de Libertação do Estado de Cabinda (FLEC) acusou o Governo português de apoiar militarmente Angola na guerra naquele enclave, onde, de acordo com o ativista cabindês José Marcos Mavungo, continuam a decorrer ações de guerrilha, há já vários anos, ignoradas pela comunidade internacional.

“Cabinda está abandonada à sua sorte”, alerta José Marcos Mavungo em entrevista à DW África.

O ativista critica a postura de “dois pesos e duas medidas” dos países do Ocidente, particularmente em relação ao conflito de Cabinda, onde continuam as ofensivas militares entre as Forças Armadas Angolanas (FAA) e as forças independentistas de libertação do território, situado a norte de Angola.

É por causa deste conflito que a Frente de Libertação do Enclave de Cabinda (FLEC) acusa Portugal de apoiar militarmente a agressão de Angola naquele território.

Marcos Mavungo diz não ter informações objetivas sobre o alegado apoio de Portugal à guerrilha no enclave. Porém, avança que existe uma cooperação militar entre os países do Ocidente, incluindo a União Europeia, da qual faz parte Portugal.

“Há também cooperação entre os EUA, a Rússia e a China com Angola. Agora não sei se a Frente de Libertação do Enclave de Cabinda (FLEC) se refere a isto”, disse.

Portugal não reage às acusações

A DW África tentou obter uma reação do Ministro português dos Negócios Estrangeiros, mas o gabinete de João Gomes Cravinho recusou fazer qualquer comentário à acusação da Frente de Libertação do Enclave de Cabinda (FLEC).

Num comunicado, assinado pelo porta-voz adjunto, tenente-general Danda Wa Danda, o movimento pede ao Parlamento europeu e à comunidade internacional para condenar e sancionar Portugal pelo apoio militar à agressão angolana em Cabinda. A missiva alerta aos deputados do Parlamento Europeu “para denunciarem a ambiguidade do Governo português face à situação de guerra” no enclave.

A ex-eurodeputada Ana Gomes, que esteve em Angola em 2008 a observar as eleições, diz conhecer os “graves problemas de direitos humanos e de liberdades em Cabinda”, injustamente “tão maltratada pelo Governo angolano”.

A política portuguesa não crê em qualquer espécie de apoio à luta pela separação de Cabinda relativamente a Angola, porque “a Frente de Libertação do Enclave de Cabinda (FLEC) é incipiente”.

“E não creio que tenha qualquer reconhecimento a nível internacional, designadamente no Parlamento Europeu”, afirmou.

Mais atenção à Cabinda

Ana Gomes gostaria, sim, que a comunidade internacional prestasse atenção à situação dos direitos humanos e às liberdades cívicas em Angola.

“Nem isso tem suficiente atenção da parte do Parlamento Europeu e da parte da comunidade internacional. Sobretudo, ainda menos em Cabinda onde os interesses das grandes empresas exploradoras do petróleo e do gás muitas vezes se fundem com os interesses dos governos europeus e americanos.” 

Por seu lado, Marcos Mavungo aponta o dedo às grandes potências ocidentais que traçaram as fronteiras atuais, fonte dos problemas que até hoje, após a descolonização, têm repercussões na vida dos povos africanos.

“E se tivermos em conta os contornos da própria questão de Cabinda, penso que [o conflito] devia merecer a atenção da União Europeia, conforme merece atenção o Sahara Ocidental, Timor-Leste e mais recentemente a [guerra] na Ucrânia”.

 

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