Fundo monetário Internacional (FMI) diz que diversificação económica “não acontece de um dia para o outro”

A Vice-Diretora do Fundo monetário Internacional (FMI) destacou hoje que a diversificação económica leva tempo e salientou que Angola deve fazer uma análise séria das medidas que implementa para avaliar os seus custos e benefícios.

Antoinette Sayeh, que participou num debate sobre a diversificação económica promovido pela Universidade Católica de Angola (UCAN), disse que há dois tipos de políticas para promover a diversificação económica — horizontais e verticais — e que Angola pode aprender lições de outros países altamente dependentes do petróleo.

Entre estes apontou a Malásia e destacou os efeitos benéficos das políticas horizontais, entre as quais políticas de estabilidade macroeconómica, desenvolvimento do capital humano e redução da burocracia que criam um ambiente favorável ao investimento.

Já no caso das políticas verticais que incluem, por exemplo, parcerias público-privadas, zonas económicas especiais ou incentivos fiscais, com medidas desenhadas para setores específicos, o FMI recomenda uma avaliação cuidadosa, medindo os prós e os contras e a eficácia face às deficiências no mercado que se pretende colmatar.

No caso dos incentivos fiscais, avisou que estes nem sempre são necessários e podem não se justificar num país com falta de receitas fiscais, além de serem subjetivos e mais suscetíveis à corrupção.

“Por isso, devem ser implementados de forma muito transparente”, recomendou a economista liberiana que foi também ministra das Finanças do seu país.

Quanto à diversificação económica, “é preciso pensar no longo prazo, porque não acontece de um dia para o outro”, e este é um dos aspetos em que “Angola precisa de refletir”, sublinhou Antoinette Sayeh.

Já para o economista e diretor do Centro de Estudos e Investigação Científica da UCAN, Alves da Rocha, é preciso abandonar a “visão extremamente económica e redutora” da diversificação económica, que deve ser encarada nos seus aspetos antropológicos e sociológicos.

Alves da Rocha – que lamentou a ausência do ministro do Planeamento, Vitor Hugo Guilherme, no debate para o qual tinha sido convidado – realçou que a diversificação em Angola “não está a acontecer”, acrescentando que o Estado continua a ter muitos vetores que obstaculizam a livre iniciativa, nomeadamente a burocracia.

Por outro lado, Antoinette Sayeh reconheceu os esforços das autoridades angolanas em termos macroeconómico, realçando que se “começou a fazer um caminho”, defendendo a continuação das reformas.

Para o economista Precioso Domingos, outro dos membros do painel, a diversificação demora ainda mais tempo quando é levada por “más ideias”, embora concorde que a estabilidade macroeconómica é um dos pontos de partida.

O também consultor observou que a economia angolana não cresce desde 2014 e destacou que o país não é livre em termos económicos.

“O facto de as empresas privadas serem autorizadas a operar não significa que estamos numa economia de mercado. Não é possível ter um planificador central que pensa por todos nós e vai escolher os setores de atuação”, criticou, acrescentando que, ao contrário do que acontece noutros países, “(em Angola) os ministros não vão a debates, é de lamentar”.

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